O Aikido que pode ser oferecido… – Por Rodrigo Calandra Martins

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Aquele que ataca está em busca de amparo, em busca de suporte.

Quem ataca revela óbvia a desesperada necessidade em dividir a dor que carrega dentro de si – mas óbvia apenas aos olhos de um coração treinado.

A prática do Aikido pode ser então esse instrumento para ajudar a perceber essa dor que se esconde por trás de qualquer ataque, apesar da intensa maneira que ela possa ser manifestada – em agressão, violência física ou psicológica, coerção, prepotência.

O aceitar essa manifestação e a conexão com a dor que a origina, é o que vai possibilitar o alivio de tal sofrimento, e a dissolução de consequente conflito.

É claro que vai ser muito difícil para eu oferecer tal suporte, oferecer atenção a alguém com tamanha dor, se estou carregando eu mesmo tal fardo. O Aikido, então, pode começar exatamente nesse ponto –  o de aprender a escutar e aceitar a própria dor e conflito, que se fazem guardados em obscuros recantos da mente e do corpo, na maior parte das vezes por muito tempo, em um processo de resgatar a própria unidade. Mas, para tanto, eu preciso desenvolver a faculdade de percebê-la, encontrá-la, reconhecer essa dor.

Conceitos fundamentais em Aikido, como Zanshin e Shugyo podem nos apontar eficientes ferramentas nessa busca. 

Shugyo, um caso difícil de tradução para o português, é algo central no ensinamento de muitas artes marciais japonesas, e implica basicamente na prática de encontrar conforto no desconfortável. Treinar a mente e o corpo a não reagir, aceitando o desconforto, sem sucumbir à tendência natural de querer fugir ou afastá-lo. 

Isso vai me permitir acesso a áreas em minha mente que, no passado, foram abandonadas, provavelmente, devido a inabilidade de lidar com certas circunstâncias e sensações de maior intensidade. Nesse processo, a integralidade da mente vai sendo recuperada, devolvendo ao corpo-mente seu movimento sinergético e natural.

Zanshin é outra palavra japonesa difícil de traduzir, mas que também aponta aos fundamentos do Aikido e de outras artes marciais. 

Enquanto que em algumas situações pode ser usada para descrever somente a posição final de uma técnica, Zanshin pode nos remeter à ideia desse estado da mais delicada atenção e vulnerabilidade, vulnerabilidade essa que permite estar sensível, receptivo, e portanto, conectado com tudo a minha volta. Uma qualidade de atenção que me faz presente de forma permeável, numa espécie de fusão entre interior e exterior.

Comece por limpar sua própria casa“, nas palavras do fundador do Aikido, Morihei Ueshiba. Comece por você mesmo. A harmonia dentro de você vai florescer da qualidade do seu Zanshin – da sua capacidade de presença no próprio sentir, e da firmeza em seu Shugyou – sua tenacidade em aceitar a circunstância presente sem resistência.

Com a casa limpa, uma mente livre de conflitos, eu já não posso mais ser enganado. 

Com o meu coração como radar, eu passo a enxergar através das máscaras de quem ataca… além de todo julgamento, de todo orgulho, arrogância… além de qualquer prepotência, agressão, violência eu vejo, agora claramente, a imensurável dor e agonia, e o desesperado pedido de ajuda por trás de qualquer ataque.

E a partir do momento que o Aikido começa a acontecer dentro de mim que eu passo ser capaz de oferecê-lo, ofertá-lo.

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*Rodrigo Calandra Martins (Sensei Rodrigo) – Fundador da Academia Central de Aikidô de Natal/RN.

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.Colaboração:

www.impressione.wordpress.com

www.aikidorn.com.br

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One Response to O Aikido que pode ser oferecido… – Por Rodrigo Calandra Martins

  1. Silvia Fontenele disse:

    Uau! Quão revelador… muito bom!

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