Aikidô como um mero passatempo? – Por Stanley Pranin

19/06/2012

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Tenho me referido em artigos recentes a respeito de nossas estimativas do grau de crescimento do Aikidô tanto no Japão quanto no exterior. Apesar de que nossas projeções relativas ao número de praticantes sejam inferiores a diversas estimativas oficiais, eu acredito que elas tampouco representem sólidas evidências da penetração do Aikidô nas maiores culturas mundiais. Com isso em mente, tenho alguns pensamentos sobre a forma de como o Aikidô é praticado em muitas escolas hoje em dia e suas implicações no desenvolvimento da arte no longo prazo.

O Aikidô é frequentemente referenciado como um esporte em conversas com não praticantes. Quando isso acontece por vezes nós nos opomos ao termoesporte e esclarecemos que o Aikidô é na verdade umaarte marcial”. Mas se olharmos cuidadosamente perceberemos que as pessoas normalmente usam o termo “esporte” num significado mais livre da palavra, e na verdade o que querem realmente dizer é alguma coisa relacionada a passatempo ou atividade de lazer ao invés de uma atividade de competição. Se pararmos e refletirmos por um instante, muitos do que estão engajados na prática do Aikidô hoje em dia realmente a tratam-no como um passatempo, hobby ou uma forma de exercício.

Como essa atitude se expressa no treino? Uma ideia que imediatamente vem à mente é essa da forma como o Aikidô é praticado em muitos dojôs, o movimento do uke nada mais é que uma caricatura de um ataque. Isso se deve à ênfase na execução da técnica em oposição ao ensino básico de como executar ataque sincero e controlado. Ataques fracos e sem comprometimento são também a maior causa das críticas sobre o Aikidô por praticantes de artes marciais. Além de ser difícil ou mesmo impossível efetuar uma técnica adequadamente contra um ataque sem sinceridade, uma atitude de tamanho relaxamento contribui para o desenvolvimento de hábitos de treinamento frívolos e lânguidos da parte tanto do uke quanto do nage. Esses são, em troca, contraprodutivos ao desenvolvimento da força muscular e das juntas e do condicionamento geral necessário para a prática segura das poderosas técnicas do Aikidô. Eu acredito que a principal responsabilidade por essa forma casual da prática do Aikidô é dos instrutores que não foram capazes de captar a essência dos métodos e intenções do fundador ao criar a arte.

É necessário que as técnicas do aikidô sejam eficazes?

Ás vezes também é discutido que as técnicas do Aikidô seriam de uso limitado em uma situação real de luta, e mesmo que fossem, o quão eficazes seriam contra uma arma letal como uma pistola. A premissa implícita é que não seja tão importante assim, e que as técnicas que praticamos tenham uma aplicação marcial. Consequentemente, por extensão, dizem os defensores desse ponto de vista que não há nada de errado em praticar de uma forma relaxada e agradável.

A maior falha, na minha opinião, sobre essa forma de pensar, é que isso negligencia as consequências danosas de tais práticas em sucessivas gerações de Aikidocas. Se usarmos o Aikidô ensinado por Morihei Ueshiba, em seguida ao fim da guerra, como uma régua pela qual possamos medir a arte atual, nós já podemos concluir que muito menos técnicas são ensinadas hoje e que há pequena ênfase em áreas fundamentais como o atemi; o uso de armas; e a prática de grupos inteiros de técnicas como koshiwaza (técnicas utilizando o quadril) e hanmi handachi (uke em pé e nage ajoelhado) os quais eram parte do curriculum original da arte. Isso sem citar a quase total ignorância da fonte e conteúdo da mensagem espiritual do fundador. Se isso continuar por muito tempo, temo que no futuro o que seja passado com o nome de “Aikidô” em muitos dojôs se torne irreconhecível como tal.

O Aikidô tem uma rica herança como uma das mais importantes e dinâmicas expressões da longa tradição japonesa de artes marciais. Morihei Ueshiba, o fundador do Aikidô, injetou nas complexas e sofisticadas técnicas que aprendeu na sua juventude uma visão humanística das artes marciais como instrumentos de resolução pacífica dos conflitos. É essa mistura única de forma, ética e utilidade, a responsável pelo impacto do Aikidô nas gerações modernas. De uma certa forma, essa visão do fundador talvez tenha sido revolucionária demais. Parece ter sido demasiado esperar que o mundo fizesse o pulo conceitual considerável requerido para transformar as ferramentas da guerra em instrumentos da paz. 

Visto sob essa luz, o estado atual do Aikidô como uma forma leve de exercício a ser buscado em um ambiente amistoso e relaxado, nada mais é que um sinal dos tempos em que vivemos onde o que é mais fácil e divertido atrai mais a atenção do que as atividades que rendem recompensas somente em consequência de um esforço aplicado em prolongados períodos de treino.

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Colaboração:

www.impressione.wordpress.com

Aiki News #86 (1990)

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ERRADO OU INCOMPLETO? – Por Marcos José do Nascimento

21/09/2009

Num seminário promovido pela Associação Higashi de Judô, no seu aniversário, em 2009, Shihan Sadao, 7º Dan de Judô, entre tantas afirmações, deixou registrado que os movimentos realizados numa arte marcial não são naturais, mas criados, sendo naturais os movimentos que os seres humanos vão desenvolvendo, espontaneamente, desde o seu nascimento.

Judô e Aikidô são herdeiros de traços do Jujutsu do século XIX, este, já naquela época, adaptado às situações da vida civil, posto que se tratava de uma prática samurai remota usada em campos de batalha, quando do desarme do guerreiro em combate.

Cada ser humano possui um determinado grau de inteligência cinestésico-corporal, oriundo de múltiplos fatores, fatores esses que vão sendo determinados ao longo da vida e do desenvolvimento do ser humano, e esse grau de inteligência cinestésico-corporal determina certas limitações ou facilidades nas movimentações que a criatura faz por alguma necessidade sua, podendo mesmo esta necessidade originar-se de uma prática de ordem física desenvolvida pela pessoa.

No treino das artes marciais japonesas existem técnicas que vão sendo aprendidas, e estas técnicas possuem um tipo de movimentação básica, que lhe serve de fundamento, a partir da qual podem ser criadas variações (kuzure).

A noção de fundamento, desta forma, é uma necessidade do praticante, desde o mais iniciante ao mais avançado, não dentro de um padrão criado como referência de movimentação, a partir do que uma ou outra pessoa faça no âmbito do Dojô, mas dentro do que permite a natureza pessoal de cada praticante, visto possuir, cada um, um grau de inteligência cinestésico-corporal, que, lógico, pode ser desenvolvida e aperfeiçoada, mas não parametrizado em relação a quem quer que seja.

Como dito anteriormente, inúmeros fatores determinam o grau de inteligência cinestésico-corporal de uma pessoa para um determinado tipo de prática, e a arte marcial não está fora desse âmbito de análise, e esse grau pode mesmo constituir-se em um empecilho para a pessoa em relação a um tipo de atividade física, a depender do que lhe será exigido, fazendo com que ela descarte a hipótese de uma determinada atividade. Tal situação pode acontecer a qualquer ser humano.

Outro fator limitante é a idade, em termos dos movimentos de uma pessoa e da amplitude desses movimentos. Ela poderá realizar movimentação, diferentemente de uma pessoa mais nova cronologicamente, não estando mesmo impedida de uma prática, contudo, terá limitações, mas não se poderá exigir-lhe que realize os seus movimentos dentro dos padrões de pessoas mais novas que ela, até mesmo porque as articulações de quem possui uma idade um pouco mais avançada sofrem com os impactos do esforço exigido.

Um bom exemplo dessa situação, no âmbito do Aikidô, é a movimentação em swari-waza e hanmi-handachi para os mais velhos que guardem interesse na prática ou já estejam praticando. Mesmo os mais graduados, antigos na arte, sentem o impacto dessa limitação oriunda do envelhecimento natural que o ser humano pode enfrentar.

Observando os praticantes que iniciam os treinos de Aikidô, creio que todos, senão a maioria, passaram pela situação de ansiedade em relação às técnicas que vão sendo mostradas. Essa ansiedade está presente na preocupação de postura, de movimentação, de destreza, quando aquele que inicia ainda não sabe, por inexperiência ou falta de orientação, que ele não deve procurar realizar suas movimentações iniciais da mesma forma e destreza que o Sensei ou Senpai demonstra, que ele deve ir, aos poucos, adaptando-se aos movimentos básicos, que serão repetidos e aperfeiçoados ao longo do tempo.

Diz um ditado que aquilo que não sabemos fazer, devemos fazer devagar. Nada mais lógico e acertado.

O praticante novato costuma conduzir uma angústia por realizar, com perfeição (que não existe, posto que não há um parâmetro a ser seguido, em termos pessoais) suas movimentações, e uma vez que é comum qualquer um, independente de graduação, deixar passar despercebido algum detalhe, um ponto a ser ressaltado dentro da movimentação da pessoa pode ser realçado pelo instrutor na ocasião, que pode ser o Sensei do treino ou o Senpai com quem o menos graduado esteja treinando.

Daí surge, talvez, um problema: o movimento realizado, que precisa ser aperfeiçoado, estaria errado ou incompleto?

A melhor didática recomendaria a segunda opção, posto que não causaria mais stress no aluno novato, cujas características de personalidade ainda são desconhecidas no âmbito do Dojô, podendo desestimulá-lo à continuidade dos treinos, além do que, de certa forma, todo o ser humano continua sempre em aprendizagem, desde quem começa as primeiras lições de qualquer ramo de conhecimento ou até mesmo quem conduz alguma forma de aprendizagem a um determinado grupo.

Assim, conclui-se que, na verdade, ao realizar uma determinada técnica, em especial o iniciante, ao faltar algum detalhe dentro do fundamento dessa técnica, esse detalhe que falta não é um erro, mas uma lacuna temporária.

MARCOS JOSÉ DO NASCIMENTO – Servidor Público Federal – Faixa-Preta em Judô e Marrom em Aikidô – Aluno da Academia Central de Aikidô de Natal – www.aikidorn.com.br

 

Referências:

01 – Judo Formal Techiniques: A complete guide to Kodokan Randori no Kata – Tuttle Publishing  – Tadao Okati e Don F. Draeger.

02 – Kodokan Judo – Jigoro Kano – Kodansha.

03 – Origins of Judo – Allen Gordon – http://www.judoinfo.com/jhist3.htm.

 

Colaboração: www.impressione.wordpress.com


Trabalho Voluntário – Natal Voluntários

09/06/2009

Natal Voluntários foi criado a partir da iniciativa do Programa Voluntários do Conselho do Comunidade Solidária que vem desde 1997 desenvolvendo condições para disseminação de uma cultura moderna do voluntariado preocupada principalmente com a eficiência dos serviços e qualificação dos voluntários e instituições 

Após tomar conhecimento da existência do Programa Voluntários e da importância de se criar um centro de voluntários em Natal, um grupo de pessoas resolveu levar a frente essa iniciativa e a adesão de novas pessoas engajadas com a causa não para mais de crescer.

O lançamento do Natal Voluntários ocorreu no dia 6 de abril de 2000 no hotel Barreira Roxa e contou com a presença de mais de 150 pessoas representantes da sociedade civil, de empresas e do setor público.

Natal Voluntários estimula pessoas, organizações e empresas a contribuírem efetivamente na melhoria da qualidade de vida do Rio Grande do Norte, fortalecendo e promovendo a ação voluntária e o investimento social privado. Contribui para aumentar o impacto da ação e do investimento social para promoção do desenvolvimento humano e melhoria da qualidade de vida da nossa população. Incentiva mais cidadãos conscientes de seu poder de transformação social a participarem de ações voluntárias, assim como organizações sociais e comunitárias mais bem preparadas para aproveitar o potencial voluntário e prestar melhores serviços à sociedade.

Natal Voluntários acredita que quando pessoas, organizações da sociedade civil e a iniciativa pública e privada se juntam para realizar ações em conjunto, as coisas acontecem. 

Esse é o espírito do Natal Voluntários. Além disso: Toda pessoa é solidária e um voluntário em potencial; o exercício da cidadania, pela prática do voluntariado e pelo investimento social de empresas, é fundamental para a transformação da realidade social; o voluntariado organizado é a base do desenvolvimento do Terceiro Setor e voluntariado é troca. Ganha quem doa e ganha quem recebe.

Colaboração: www.natalvoluntarios.org.br


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