A Consciência Tríplice no Aikido: para além do conflito interno, um relato pessoal – Por Rafael Jhonata

23/05/2014

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É engraçado como no começo da prática de Aikido nos deparamos com conselhos tão valiosos, mas para os quais não dispensamos muita atenção. Desde a primeira vez que coloquei os pés no tatame, tenho ouvido meus Sensei(s) dizerem: “Olha a postura, preste atenção na respiração, movimente o centro, Aikido é jeito e não força”… Eu até tentava dispensar a atenção que eles me solicitavam, mas por algum motivo isso não passava, se muito, dos primeiros minutos da prática – quem já treina há algum tempo, sabe exatamente ao que me refiro. Não se trata de ignorar a ordem de nossos mestres, mas ao vermos a energia de uma intenção dirigir-se a nós, automaticamente nosso senso de autopreservação fala mais alto, e quando não ficamos paralisados, com medo de sermos pegos pela energia contrária que pode se manifestar na forma de um golpe frontal (tsuki, atemi, shomen, etc.) ou um aprisionamento (katadori, morotetori, etc.), tentamos impor nossa força física sobre nossos colegas, tentando conduzir por meio da força, o que deveria ser conduzido por meio da leveza.

E foi justamente pensando nessas coisas que nos meus últimos treinos decidi mudar a abordagem. Tentei me manter presente durante todo o treino, tanto quando estava no papel de Uke, como quando estava no papel de Nage. Comecei a prestar atenção na respiração, mesmo durante a prática do aquecimento que antecede o treino e tentei expandir meus sentidos para conseguir registrar as mínimas sensações em meu corpo. O resultado não poderia ser mais gratificante.

Pela primeira vez, durante esses quase quatro anos de treino, eu pude registrar uma experiência de aprimoramento pessoal e extrassensorial. Pela primeira vez eu estava totalmente presente durante a prática e o mais incrível de tudo, foi o despertar de uma consciência que até então eu apenas tinha ouvido falar a respeito. Enquanto realizávamos uma prática de Sankyo, eu senti minha consciência se desdobrar e se separar da própria ideia de unicidade física – já não era apenas o Uke ou Nage, mas ao mesmo tempo uma terceira entidade que era capaz de observar tudo, sentir tudo. Ao passo em que a prática ia se desenrolando e a mente objetiva tentava entrar em grau de relaxamento automático (você já viu esse movimento centenas de vezes, já o executou umas mil, então pra quê prestar atenção nisso?) essa terceira entidade que ao mesmo tempo era e não era eu, me questionava: “onde você está agora?”. Devido a esse nível de atenção, toda a movimentação alcançou um novo aspecto, de repente eu sabia exatamente como e quando me movimentar. Sabia exatamente quando meu colega estava com o braço no ponto exato de tensão necessário e podia registrar tudo o que ocorria a minha volta, sem precisar ficar olhando diretamente para as coisas, inclusive lembro-me de ter comentado com ele: “é incrível como as coisas ficam quando nos dispomos a fazer algo com toda a força de vontade, a prática se torna totalmente diferente e tudo vira uma verdadeira explosão sensorial”.

Repito, nunca havia experimentado algo assim e espero nunca mais perder essa capacidade. A caminhada será longa, tenho certeza que esse foi apenas o insight inicial, mas mesmo assim me sinto grato por conseguir alcançar o ponto primeiro daquilo que sempre desejei conseguir após ingressar no Aikido.

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*Rafael Jhonata – Faixa-amarela, Aluno da Academia Central de Aikidô de Natal.

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Colaboração:

www.impressione.wordpress.com

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