A força usada pelo nage na aplicação da técnica de Aikido – Por Frank Düesberg

06/02/2014

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Por algum tempo questiono-me sobre a quantidade e localização da força usada pelo nage na aplicação da técnica. Vamos tentar analisar qual é o princípio que rege o uso da força, além de como, com que parte do corpo e com que intensidade ela deve ser usada.

No final de 2013 fiz a seguinte pergunta a Max Eriksson, Sensei alemão, com 25 anos de Aikido, cujo Dojo eu já visitei várias vezes, que treinou junto com Sensei Gabriel no Japão e que esteve mais de um mês na Academia Central de Natal acerca de dois anos atrás:

Pergunta: Quanto menos força o nage usa, melhor é seu Aikido?

A resposta foi bem clara: Sim.

A questão é, de acordo com Max, que é muito mais fácil ensinar uma técnica do que um princípio!

Como devemos entender esta resposta e a justificativa?

O “Ai” de Aikido significa harmonia. Num ataque correto (ver meu artigo anterior) uma força vem ao encontro do nage. Inexoravelmente, para que seja Aikido, é preciso se harmonizar com esta energia que vem na direção do mesmo.

A pergunta então é quanta energia o nage precisa para se harmonizar com o ataque? Como ele apenas precisa direcionar seu corpo para que se alinhe na mesma direção vetorial do ataque, a energia necessária é pouca já que na forma ideal não tem nenhum impacto, comparado com, por exemplo, uma defesa de karaté, que tenta bloquear ao máximo o ataque com os vetores de força indo um contra o outro. 

O segundo estágio da aplicação da técnica é do desvio. O nage precisa desviar a energia do ataque para não ser atingido e para colocar o atacante em desequilíbrio. Aqui alguma energia é necessária, porém é aqui que se mostra a qualidade do Aikidoista. A técnica impõe um movimento do nage, quando o princípio ensina o uso inteligente do desequilíbrio, respeitando o tempo do atacante (Sensei Gabriel sempre alertava para treinar também com o ouvido, percebendo, por exemplo, quando o uke pisa no chão). Ao invés de querer impor uma sequência de movimentos, o nage precisa captar o eixo do atacante, torná-lo fraco e tomá-lo para si próprio, para levar o atacante para a terceira fase, a finalização.

Nesta, o atacante encontra-se desequilibrado e o nage precisa dirigir e acompanhar sua queda para finalizar a técnica, novamente observando o mínimo de uso de força. Isto é muito diferente do nage agressor, que nesta hora usa sua força para a técnica aparentar ser eficiente e desvia o atacante da sua queda natural ou reforça-a além do necessário.

É nesta hora que aparece o ego, a vontade de mostrar eficiência, a capacidade de dominar o outro e isto se expressa pelo uso excessivo de força ou pela vontade de infringir dor no outro. Isto é outro ponto fundamental, infringir dor no outro não é o objetivo do verdadeiro Aikidoista. Se uma técnica envolve dor, ela é apenas um meio para causar desequilíbrio ou imobilização, mas nunca é um fim em si.

Outra questão desta fase crítica e sempre alertada pelo Sensei Gabriel é a alteração da velocidade da aplicação da técnica, o que demonstra também um uso errado da força: a primeira fase de se proteger, sair da linha de ataque e a harmonização pode ser feita muito rápida, porém a partir do momento do desequilíbrio, quando acontece o momento mais frágil do uke, a técnica deve ser executada com muito cuidado.  O uke coloca seu corpo a disposição e deve ser respeitado. É proibido então de começar devagar e acelerar durante o processo, já que a aceleração prova que o nage usa sua força ao invés de usar a do ataque.

Comparamos agora detalhadamente a aplicação de um shihonage com um ataque gyaku hammi. Neste exemplo quero demonstrar também a segunda questão inicial, a da localização da força. Para ser mais claro usarei dois extremos, um típico faixa branca e a forma ensinada por Sensei Gabriel, que aprendeu este formato de shihonage com Takeshi Kanazawa Sensei do Hombu Dojo.  

Fases Faixa   branca Sensei   Gabriel
Preparação Olhar fixo na mão do atacante;Braços tencionados; Percepção geral do atacante;Braços relaxados;
Pegada gyaku hammi Opõe-se ao vetor de energia;  Recebe a pegada movendo o corpo com o braço   na mesma direção do ataque; 
Desvio Puxa com força para o lado e para baixo;Põe o polegar por cima do pulso do   atacante; Com o braço na mesma posição forma um U com   o movimento do corpo, primeiro recebendo a energia, depois a desviando e em   seguida devolvendo-a;
Aplicação Sobe com força os braços (já que acabou de   puxar para baixo) agarrando o pulso com duas mãos abrindo ainda os cotovelos; Na posição exata de ombro com ombro, deixa   a mão que foi segurada vir até a testa, com os cotovelos juntos como se   tivesse segurando uma espada e a outra mão só de segurança, caso o atacante   solte a pegada;
Finalização Gira em desequilíbrio, com os braços tensos   e fora do eixo, recua e puxa o atacante para baixo e para frente tendo que   usar toda força nos braços. Gira equilibrado no eixo terminando   novamente ombro com ombro e sem tencionar os braços, em seguida solta o peso   do corpo no giro do quadril levando o atacante ao chão usando praticamente só   a força da gravidade.

No exemplo acima podemos observar que o Sensei Gabriel quase não usa força nos braços, a técnica é executada na maior parte pelos movimentos do corpo com as mãos e braços sempre o mais relaxado possível e sempre na frente do corpo.

Eu entendo então que o Aikido é melhor:

  • quanto menos força é usada em geral;
  • quanto menos força é usada nos braços e nas mãos;
  • quanto mais a força é usada vindo do centro do corpo.

A grande dificuldade é de não interromper a energia do atacante. Ele cai com a mesma intensidade com que ele atacou, sem que o nage precise acrescentar a força dele. Ao contrário, quanto mais forte o ataque, menos força o nage usa.

Tendemos a querer resolver tudo com nossas mãos e braços e esquecemos a força do nosso corpo. Mas porque Aikido funciona também para mulheres? Treinei na Alemanha com a colega de Max, a senhora Ulrike, magra e baixa, porém com 10 anos a mais de Aikido que Max. Ataquei, a pedido, com toda minha força e fui derrubado sem esforço da parte dela. Como? Usando os princípios básicos do Aikido! 

Lembro-me também de um faixa colorida me atacando e depois reclamando que caiu muito forte. O que ele não tinha entendido, é que foi o ataque dele que definiu a força da queda. Ele se surpreendeu porque não estava acostumado a treinar com o entendimento dos princípios.

Um motivo comum disso é uma inversão dos papéis durante a execução da técnica. O ataque é parado e o nage se transforma em agressor através da tentativa de aplicar alguma técnica. É de extrema importância entender que a partir do momento que a energia do ataque é interrompida, não há mais Aikido!!!

São as palavras do Max: aplicando uma técnica de Aikido não transforma você em Aikidoista, somente o uso dos princípios o faz. Ser Aikidoista significa então entender os princípios e treinar este entendimento, muito mais do que saber uma técnica.

Para finalizar quero acrescentar mais um pensamento nesta linha de raciocínio.  De acordo com o supracitado devemos trazer a força na aplicação da técnica para o centro do nosso corpo. Sendo assim, como fica a comparação entre uma aplicação em uma pequena articulação com um desequilíbrio do corpo todo?

Exemplificamos com um Kote gaeshi. A finalização pela pequena articulação é pela dor que o atacante sente quando seu dedo indicador é empurrado contra o pulso. O ataque já foi parado, o nage agressor domina o atacante pela dor na articulação do dedo indicador e o atacante (que já não é mais, agora é apenas vítima) é obrigado a se deitar no chão. Precisamos entender que a dor acontece quando não tem para onde a força do ataque escapar (aqui já me refiro ao nage agressor).

Na técnica Kote gaeshi ensinada pelo Sensei Gabriel (1. tração, 2. mão fora do ombro e 3. giro do quadril), a pouca força usada passa da articulação do dedo, para o pulso, daí para o cotovelo e para o ombro e finalmente causando um desequilíbrio completo do corpo, sem infringir dor. O ataque foi desviado, o nage se preservou e preservou o atacante.

Desta forma os princípios do Aikido são preservados e podemos pensar em um mundo melhor.

(Revisão de Sensei Gabriel Lopes)

*Frank Düesberg é aluno da Academia Central de Aikidô de Natal .

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Colaboração:

www.impressione.wordpress.com

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O Ataque no Aikido – Por Frank Düesberg

04/03/2013

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O texto que segue foi enviado pelo aikidoca Frank Düesberg. Frank é aluno da Academia Central de Aikidô de Natal .

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Existe uma tendência muito forte de valorizar a aplicação da técnica.  Entende-se neste sentido como técnica uma sequência de movimentos padronizados.  Para conseguir executar os mesmos, requer-se um esforço, principalmente dos braços, para levar o corpo do uke de acordo com a exigência da técnica. Sendo assim, eu questiono se ainda se trata de Aikido no sentido como eu o compreendo, porque a partir do momento que o nage usa sua força, além do necessário para desviar o ataque, ele mesmo se transforma em agressor e o uke em vítima. O critério vital para discernir um do outro é exatamente a quantidade de força que o nage aplica. Um dos pontos chaves para mim para saber da qualidade de um nage é o uso minimizado de força.

Nessa perspectiva o ataque do uke ganha outra dimensão quase totalmente ignorado devido ao papel dominador da aplicação padronizada dos movimentos. Quais são os erros mais comuns nos ataques? Aqui cabe uma comparação com a vida na nossa sociedade. As pessoas que encontramos no dia-a-dia não vêm com intenções claras, diretas e sem reservas. A falta de honestidade é prática comum, as pessoas não são como querem ser vistos. São cheios de subterfúgios, maliciosos, e em qualquer mudança das circunstâncias imediatamente mudam de atitude de acordo com seus interesses.

No ataque do uke isto significa que ele não é efetuado com 100% de intenção direcionada, o que pode ser observado nos ataques mais comuns pelos seguintes critérios: 

– no quadril recuado e no tronco inclinado para frente;

– no peso do corpo nas duas pernas ou até na perna de trás;

– no braço retesado na hora do arremesso nos golpes;

– na falta de direcionar a intenção para o centro do nage no caso das pegadas;

– na pouca precisão do local pretendido do ataque e

– na reação antecipada sabendo a técnica a ser aplicada.

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Para um bom ataque então, o uke precisa: 

– definir antes do início do ataque o local preciso que quer atingir e manter este objetivo o máximo de tempo possível;

– arremessar o braço nos golpes para conseguir o máximo de potência;

– soltar a musculatura do braço nos golpes após alcançar o local pretendido do ataque;

– manter uma pressão contínua para o centro do corpo do nage nas pegadas;

– colocar o peso do corpo na perna da frente mantendo o quadril e tronco alinhado;

– evitar a antecipação da técnica;

– manter o ataque numa velocidade adequada até o final do movimento;

– após o término do ataque ficar numa posição equilibrada;

– não cair sozinho;

– evitar a antecipação do movimento do nage.

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www.aikidorn.com.br

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Aikido Pessoal – Por Frank Düesberg

14/02/2013

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O texto que segue foi enviado pelo aikidoca Frank Düesberg. Frank é aluno da Academia Central de Aikidô de Natal .

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Faz-se necessário definir um Aikido pessoal? Tantos mestres que tem no mundo, o quê se poderia acrescentar? E se tivesse, qual importância teria?

O Aikido pessoal é algo que se desenvolve de acordo com meu corpo, minha percepção, meu treino, meus mestres, minha respiração, meu equilíbrio, meus ancestrais (como diria Lara Machado) e minha capacidade em geral de me mover e compreender.

Aikido é um estado de percepção que muda a cada segundo, como também um estado de mente que, com treino continuo, tende a se solidificar. Para mim é um estado de paz, percepção, prontidão e relaxamento. Repito: paz = tranquilo e sem agressividade, percepção = estar ligado em si e no que acontece ao redor, prontidão = poder reagir tranquilamente, relaxamento = reagir, sem ou quase sem se tencionar.

Alguém poderia observar que está faltando a técnica, mas acho que não está faltando nos princípios do Aikido. Qual é então a importância da técnica? É o caminho para chegar ao Aikido, mas não o é o próprio.

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Aikidô Natal – 10 Anos de Aikidô – Novos Graduados da Academia Central de Natal/RN

24/11/2009

Conforme prometido, segue a lista dos novos graduados da Academia Central de Aikidô de Natal (em ordem alfabética). Os novos graduados receberam seus títulos na presença do Mestre Reishin Kawai, 8º Dan de Aikidô, introdutor e representante do Aikidô no Brasil e do Sensei Rodrigo Martins, Fundador da Academia de Aikidô de Natal em 1999.

O evento foi parte da comemoração dos 10 anos de Aikidô em Natal/RN. Participaram também do evento o Sensei Rogério Paudejuenas (PB), Sensei Henrique (PE), e o Sensei Daniel (BA).

Atualmente Sensei Rodrigo reside nos EUA e a Academia Central de Aikidô de Natal está sob a direção de seus seguidores mais antigos: Marco Antonio Rocha, James Araújo, Sérgio Pellissari e Gabriel Lopes.

NOVOS GRADUADOS

Shodan – Faixa-Preta 1° Grau

Alberto Sérgio G. Chagas

Beethoven Feitosa Gouveia

Cristiana Silva Barbosa

Cristiano Baia F. Araujo

Diego Fernandes Sales

Francisco A. Feitosa Junior

Francisco Laurentino Pontes

Frank Düesberg

José Francisco Cosme Silva

Leonardo Carneiro Ventura

Louise Leiros F. Siqueira

Luiz Augusto O. Souto

Marcos José Nascimento

Marcos William Pontes

Paulo Wanderley Sá Leitão Neto

Roberta Macedo Xavier

Nidan – Faixa-Preta 2° Grau

Hellen Suely dos S. L. Paiva

Marcelo Murilo G. dos Santos

Sandan – Faixa-Preta 3° Grau

Cristos Xenophon Aravanis

Israel Felix de Lima Junior

Marcus Vinicius Andrade Brasil

Maria Cristina Cuono Pereira

Maroni Costa Leitão

Giovanni Nóbrega de Paiva

Colaboração: www.aikidorn.com.br


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