A Origem do Jujutsu – Por Marcos José do Nascimento

10/09/2013

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O sistema de combate conhecido como Jujutsu ou Jiu-Jitsu, nos seus mais diversos estilos, nasceu no Japão, designando ele genericamente todos os sistemas japoneses de combate sem uso de arma ou minimamente armado, sendo o seu uso o campo de batalha.  

Shihan Jigoro Kano informa na sua obra “Kodokan Judo” que o caracter “Ju” do termo Jujutsu significa “gentileza”, “ceder”, ideograma Ju-no-Michi, tendo o termo Jujutsu o significado de arte (prática) de ceder, da flexibilidade, como também informa que é possível que a origem do termo Jujutsu tenha nascido da expressão Ju Yoku Go o Seisu, significando Flexibilidade controla a rigidez.

Os bushis desenvolveram as artes marciais clássicas japonesas, incluindo as diversas armas, assim como também desenvolveram vários sistemas de combates armados, minimamente armados e desarmados, voltados para a aplicação em campo de batalha.

Um dos primeiros registros da existência de artes combativas no estilo japonês dos tempos primitivos é encontrado no Nihon Shoki (Crônicas do Japão), escrito no ano 720, narrando a existência de Chikara Kurabe ou competições de “Comparação de Força”.

Outros documentos do século X descrevem a mecânica de métodos combativos semelhantes, e essas habilidades foram transmitidas através dos tempos, utilizadas por guerreiros que constituíram um estrato social aristocrático e privilegiado da sociedade japonesa, sendo conhecidos como bushis, que realizaram um estudo completo de muitos tipos de lutas que empregavam instrumentos letais.

A partir do século dezessete a paz doméstica no Japão marcou o início do colapso da classe guerreira (os samurais) que havia tomado as rédeas do poder a partir do século doze, com o afastamento da família imperial.  Com o início da Era Meiji, a partir de 1868, os diversos estilos (Ryu) de Jujutsu foram-se adaptando de uma forma de luta em campo de batalha para a vida civil urbana.

Shihan Mifune, 10º Dan de Judô, assinala em sua obra, The Canon of Judo, que os principais registros acerca do assunto encontram-se do Período Edo (1600-1868) em diante, informando a existência de uma arte marcial parecida com o Jujutsu encontrada no Judo Higashuko (Registros Secretos do Judô), constando haver uma forma de luta popular desde o Período Eisei (1504-1520), existindo também a informação em uma obra intitulada Honcho-Bugei-Shoden (Uma Breve História das Artes Marciais Japonesas), publicada no Período Shotoku (1711-1715), cujo autor, Hinatsu Shigetaka, narra a existência  de um grupo de artes marciais desenvolvido ao longo da história, incluindo-se nesse grupo o Taijutsu, Taido, Wajutsu e o Gojutsu, como também narram Tadao Otaki em Donn F. Draegger, em sua obra “Judo Formal Techiniques: a complete guide to Kodokan Randori no Kata”, que, em sentido amplo, a partir do século XVII o termo Jujutsu inclui diferentes sistemas de combate como Kumi-uchi, Kogusoku, Koshi no Mawari e outros.

No mês de junho do ano de 1532, Takenouchi Hisamori fundou a Takenouchi Ryu, referindo-se ao Jujutsu como Yawara.

Do estilo (Ryu) Yoshin, informam Shihan Jigoro Kano e T. Lindsay no Relatório da Sociedade Asiática do Japão, volume 15, que esta escola começou com Miura Yoshin, um médico de Nagasaki, nos tempos dos Shoguns Tokugawa, significando “Coração de Salgueiro” ou “Espírito do Salgueiro” e que a Tenjin-Shino-Ryu originou-se de Iso Mataemon, que estudou primeiro a Yoshin-Ryu, com Hitotsuyanagi e a Shin-no-Shinto-Ryu com Homma Joyemon.

O estilo (Ryu) Araki, de acordo com o Bugei-Ryusoroku (Registro dos Fundadores das Escolas de Artes Marciais) desenvolveu-se no Período Tensho (1573-1591) por Araki Numisai. O Ryoi-Shinto-Ryu, também conhecido como Fukuno-Ryu foi criado por Fukuno Schichiroemon no século XVII, desse estilo derivou-se a Kito Ryu, que chegou a possuir em determinada fase de sua história cerca de três mil praticantes.

Citamos alguns estilos (Ryu) de Jujutsu: Yoshin, Kyushin, Iga, Teiho-Zan, Kuso, Jiki-Shin, Seiso, Kashin, Isei Jitoku-Tenshin, Tenshin-Shinyo, Totsuka, Takenouchi.

Por volta do século XIX, o Jujutsu constituía-se em uma coleção de táticas usadas contra um adversário armado ou desarmado, tornando-se os seus estilos tão números que eram contados as centenas, com a multiplicação das Ryu. 

Do estilo guerreiro e marcial passou a um uso civil, o que lhe trouxe um refinamento das suas técnicas a partir do período de paz por que passava o Japão, contudo, durante já a primeira metade do século XIX estava ocorrendo uma deturpação da arte com as atitudes de alguns praticantes de alguns Dojos que acreditavam ser necessário, para a aferição da efetividade das técnicas criarem uma situação real de combate no ambiente urbano que reproduzisse o campo de batalha, passando a desafiar os praticantes de outras academias, com também agredindo alguns civis de forma aleatória, provocando badernas e confusões, trazendo a má fama para a imagem do Jujutsu, assim como realizavam exibições em teatros em combates contras praticantes de Sumô (Sumotori).

Os diversos estilos de Jujutsu incluíam duas partes em sua prática, o Randori e o Kata, constituindo-se o primeiro em técnica livre, em que dois alunos combatiam dentro do ambiente do Dojo, enquanto que o Kata era uma forma de movimentação para dois participantes de maneira pré-arranjada.

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Referências:

KANO, Jigoro. Kodokan Judo. 1 ed. Tóquio: Kodansha International. 1986.

MIFUNE, Kyuzo. Then Canon Of Judo: classic teachings on principles and techniques. Tóquio: Kodansha International. 2004.

OTAKI, Tadao; DRAEGER, Donn F. Judo Formal Techiniques: a complete guide to Kodokan Randori no Kata. Tóquio: Charles E. Tuttle Company Inc. 1997.

http://judoinfo.com/new/alphabetical-list/judo-history/136-jujutsu-by-jigoro-kanoand-t-lindsay

WATSON, Brian. The father of Judo: a biography of Jigoro Kano. Tóquio: Kodansha International.2000

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*Marcos José do Nascimento Servidor Público Federal e faixa-preta em Judô pela Higashi e de Aikidô pela Academia Central de Aikidô de Natal.

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Colaboração:

www.impressione.wordpress.com

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A ARTE DE CEDER – Por Marcos José do Nascimento

26/11/2009

Em minha adolescência, quando iniciei os meus treinos de Judô com Sensei Ceny Peres Barga, no Ginásio Portuário, no Rio de Janeiro, eram enfatizados os aspectos dos ensinamentos filosóficos de Jigoro Kano, e um deles passado para nós era o seguinte: “O Judô, quando empregado, é tão perigoso quanto uma espada desembainhada, o melhor modo de usá-lo é não o empregar. Ceder para vencer”.

Ceder é uma prática pouco difundida em sociedade, pois, em geral, o ser humano é ensinado, e não educado, a conquistar seus espaços a qualquer custo, de qualquer maneira, qualquer seja esse espaço, e em o conquistando, nele permanecer de igual maneira, da mesma forma que o conquistou, quando não descobrindo novas formas de manutenção no posto, sejam quais forem essas formas.

O Jujutsu marca, pode-se especular, de certa maneira, uma nova maneira de prática de arte marcial, posto que o seu princípio guarda relação com a suavidade, com a flexibilidade, e acredito que no momento anterior à sua existência o modo de praticar-se a arte marcial desarmada fosse talvez mais rígido, menos suave, menos flexível.

Jigoro Kano afirma em seus escritos que o termo Jujutsu talvez se tenha originado da expressão: “Ju yoku go o seisu”, significando, “Flexibilidade Controla a Rigidez”. Na flexibilidade está implícita a idéia de ceder.

Judô e Aikidô são duas artes marciais que empregam a idéia de ceder, embora no primeiro nas competições alguns atletas não se utilizem desse princípio, enquanto outros o utilizam como forma de condução do oponente para uma posição que facilite a aplicação de sua técnica.

Fora os aspectos competitivos do Judô, nas suas demais práticas, ceder é uma constante, no treino técnico, nos seus diversos katas, enquanto no Aikidô essa constante é sempre presente, posto que neste não há alguma forma de combate, no qual um dos praticantes tenha que ser considerado vencedor, inexistindo a figura do oponente na outra pessoa.

Nos treinos de Aikidô, o uke cede o seu corpo para que o tori (ou nage) aplique uma técnica, de igual maneira acontece no Judô, existindo neste apenas uma hipótese em que tal não ocorre, é o chamado “tendoku geiko” (treinamento solitário) no qual o judoca realiza as movimentações de igual forma como se contasse com uke, que na verdade não está presente.

Tanto Jigoro Kano quanto Morihei Ueshiba, respectivamente, criadores do Judô e do Aikidô enfatizavam o uso das artes que criaram fora do ambiente do Dojô, no que se refere a transferir os comportamentos levados a efeito dentro dos treinos para a sociedade, colaborando com ela. E um desses aspectos é o hábito de ceder, entre outros tantos ganhos que vão sendo conquistados ao longo de uma prática continuada.

A imagem do atleta que, na propaganda televisiva, quando chega o elevador, cede a vez para outra pessoa, é um aspecto de gentileza e educação repetido no ambiente do Dojô, e a oportunidade de ceder, pelo exercício da flexibilidade mental, vai-se estendendo aos poucos, para outras posturas mentais e sociais, tornando o praticante, paulatinamente, menos rígido com os outros e consigo mesmo, salientando que todo trabalho de transformação do ser humano, incutindo-lhe novos hábitos mentais e sociais é uma tarefa demorada que tem de contar com a boa vontade do próprio ser, uma vez que na sociedade nem sempre se pode contar com a boa vontade alheia, e transformação que precisa operar-se é em cada ser, em lugar de primeiro dar-se com o outro para que cada um transforme-se.

É uma ação que reclama internalizar os conceitos aprendidos, transformando-os em práticas ao longo do tempo, dentro e fora do Dojô, mesmo que, aparentemente, pequenas, sem grande destaque, sem grande realce social, mesmo sem ser percebida pelos demais, pois, de outra maneira, o discurso não passará de uma bela retórica, o que não falta nos mais variados ramos da atividade humana.

Quando Jigoro Kano afirmava “ceder para vencer”, este vencer reporta-se a vencer a si mesmo, e não o oponente, posto que, em última instância, mesmo na competição em que se busca uma vitória sobre o outro, vence-se a si mesmo, superando-se a si mesmo numa limitação, conquanto essa vitória seja sempre efêmera, mui passageira, como também enfatizava o criador do Judô, quando afirmava que num combate, tanto quem vence, quanto quem perde, encontram-se ambos no mesmo patamar, no mesmo nível.

A arte de ceder, presente no Judô e no Aikidô, herdada do Jujutusu, reclama comportamentos de cooperação, dentro e fora do Dojô, ajudando na construção de uma sociedade melhor, por meio da melhoria dos seus integrantes, e, neste aspecto, tanto o Aikidô quanto o Judô, em suas essências, buscam colaborar na mudança para melhor do ser humano, colaborando com a sociedade como um todo, melhorando-a pela transformação de seus integrantes.

Referências

– MIND OVER MUSCLE – JIGORO KANO – 2005 – KODANSHA.

*MARCOS JOSÉ DO NASCIMENTO – Servido Público Federal – Faixa-Preta de Judô e Aikidô – Aluno da Academia Central de Aikidô de Natal.


Os Três Aspectos do Judô – Por Jigoro Kano

02/04/2009

Quando o Judô, como nós conhecemos hoje, era ainda primitivo e comumente se referia a ele como Jujutsu, o principal propósito do treino era aprender um método pelo qual se aparava um ataque. Os praticantes assim faziam com o objetivo de colocar as habilidades que eles haviam aprendido para o uso da nação ou para defenderem-se. Mas mesmo se eles tivessem um propósito no treino, era sem muitas dificuldades, e muitos praticantes particularmente que exploravam como colocar as habilidades que eles haviam aprendido, ficaram, em vez disso, principalmente interessados no desenvolvimento da força.

 

Desde o estabelecimento da Kodokan, o Judô tem-se tornado algo que deveria ser estudado não apenas como um método de defesa pessoal, mas também como uma maneira de treinar o corpo e cultivar a mente. Naturalmente, esse treino físico e cultivo mental têm de possuir seu próprio propósito, e desde o começo eu tenho enfatizado que o corpo treinado e a mente cultivada têm de ser colocados para bons usos. Entretanto, no passado havia uma energia adquirida através desse cultivo que era relativamente negligenciada. No futuro, eu gostaria de defender todos os três aspectos igualmente.

 

É difícil ponderar a relativa importância dessas três coisas, mas tomá-las com o objetivo do completo estudo da defesa contra o ataque é base e habilidade para treinar o corpo e cultivar a mente que vem desse estudo. Com um corpo bem treinado e uma mente cultivada, você pode aplicar o seu treino a benefício da sociedade. Assim, tomando esses processos em uma ordem lógica, colocando a sua energia em uso na sociedade é o último fator a ser considerado. Entretanto, se nós olhamos para ele de uma outra direção, colocando a sua energia para o melhor uso, tem de ser o propósito final do estudo da atividade humana. Treino e cultivo do corpo e da mente são caminhos para alcançar esse propósito. E porque esse treino e cultivo naturalmente evoluem do treino da defesa contra ataque, podemos entender o treino da defesa contra ataque como um meio para um fim.

 

O verdadeiro valor de uma pessoa é determinado pelo quanto ela contribui para sociedade durante a sua vida. Isso se aplica às pessoas comuns também, mas em particular àquelas que se especializam no Judô que têm de agir de um modo consistente com os propósitos do Judô. Quando você pratica Judô, tem de tentar aperfeiçoar-se e contribuir para a sociedade através dessa prática, você tem de enfatizar a importância disso durante os seus ensinamentos aos outros.

 

Ao mesmo tempo, você tem de escolher métodos que permitam você o melhor alcance dos objetivos do Judô na sua vida diária. Por exemplo, com respeito às exigências básicas da vida tais como comida, roupa e abrigo, e também na sua interação social, você tem de seriamente considerar se está conduzindo a sua vida ao mesmo tempo em que faz a sua máxima contribuição para a sociedade. Algo que parece bom porque está à mão pode ser imprestável no futuro, enquanto alguns em alguns casos um pouco de paciência é altamente efetiva para favorecer a sua sorte no futuro. Todos esses aspectos têm de ser considerados e planejar cuidadosamente é necessário, a fim de alcançar um bom resultado global.

 

Isso não é de modo algum uma tarefa, o sucesso de alguém ou o fracasso dependem principalmente da preparação (ou carecer daquilo) nessas áreas, então isso tem de ser considerado seriamente. A base da felicidade na vida é encontrada não em perseguir o ganho material ou o prazer temporário, e a verdadeira bondade voltada para os amigos significa dar conselhos sérios quando precisam, de forma abnegada, sem receito de ofendê-los.

 

Até aqui eu realcei nessas páginas que o propósito do Judô é aperfeiçoar a si mesmo, para colaborar com a sociedade, e adaptar-se à época em que se vive. As pessoas podem razoavelmente se perguntarem como o propósito do Judô difere dos propósitos das pessoas comuns e podem indagar a necessidade de prosseguir no Judô. O propósito do Judô, claro, não difere do das pessoas comuns – nesse aspecto repousa o valor do Judô.

 

Porque o propósito do Judô é o mesmo que os das pessoas comuns, não há necessidade em hesitar em fazer um esforço para cumprir esse propósito. A razão do Judô é necessária para preencher o propósito de alguém é que a prática do Judô capacita-nos a encontrar o meio mais apropriado e a desenvolver a habilidade para assim proceder. Não há dúvida que o sucesso depende dos meios. E, além disso, para ser a melhor maneira de aprender como fazer o uso mais efetivo da sua força física e mental, pode ser dito que o Judô é “estudo dos meios”, e a sua prática é o estudo dos melhores meios para alcançar todos os tipos de sucesso.

 

Tradução: MARCOS JOSÉ DO NASCIMENTO – Servidor Público Federal, 1° Kyu de Aikidô pela Academia Central de Aikidô de Natal e Yudansha de Judô pela Academia Higashi, em Natal/RN


Sobre Aikidô – Por Marcos José do Nascimento – 10 Anos da Academia Central de Aikidô de Natal

04/03/2009

Eu treinei Judô desde a adolescência, de forma intermitente, com algumas grandes lacunas de período sem treino algum. Havia tido alguma notícia do Aikidô no Rio de Janeiro, nos anos 70, quando vi uma reportagem na extinta revista Manchete, foi o primeiro contato com o assunto. Achei interessantes as movimentações.

 

Meu primeiro professor de Judô, no Rio de Janeiro, Ceny Peres Barga, foi aluno de Masino Ogino, e costumava, Sensei Peres, ensinar-nos técnicas de defesa pessoal, e em meio a algumas dessas técnicas, vim a perceber traços de movimentação do Aikidô, rememorando essas lembranças após iniciado os treinos na arte de Ô-Sensei, e, posteriormente, ao pesquisar sobre a história do Aikidô, descobri que a academia em que iniciei meus primeiros treinos de Judô, Ginásio Portuário, recebera, nos anos 60, um japonês, Yudansha de Aikidô, que ministrou aulas na minha primeira academia de Judô.

 

Em 1999, nasceu o meu interesse pelo treino de Aikidô, no segundo semestre, mas não poderia iniciar os treinos, senão a partir de janeiro do ano seguinte, 2000, em virtude de não dispor de horário algum livre e em função de compromissos assumidos. Essa procura deu-se como forma de preserva a saúde, através de algum tipo de prática que envolvesse o físico. Eu queria, desta forma, uma atividade física que se realizasse sobre o tatame, mas sem competição e um pouco mais suave, por não querer mais o combate, em razão da idade e dos riscos envolvidos para quem já havia passado dos trinta anos de idade, um pouco.

 

Fui, inicialmente, informado de uma academia que funcionaria no bairro do Alecrim, da qual a pessoa que nos indicou forneceu-me um número de telefone, mas que não atendia as chamadas feitas. Assim, deixei para iniciar a procura somente em janeiro de 2000. Na ocasião, um colega de trabalho informou-me da existência de uma academia próxima à Churrascaria A Carreta, em cima da Drogaria Amadeus, o que, de início atraiu mais ainda a nossa atenção, por situar-se no caminho entre a nossa residência e vários locais, trabalho, centro de Natal, e muitos outros pontos.

 

Antes de tomar a decisão por inscrever-me, decidir assistir a um treino, observar o ambiente e como se processava tudo. Fui, durante a semana, numa tarde, por volta das 15h, as aulas duravam até às 16h. Sensei Rodrigo ministrava a aula, era janeiro de 2000, não me recordo bem de quem participava e nem das graduações, mas acredito que havia, no máximo faixas roxas, os Kyus mais avançados de alunos.

 

Percebi a seriedade do ambiente e a seriedade com que se tratava o Aikidô, e, ao final do treino, falei com Sensei Rodrigo, fazendo a minha inscrição, e iniciando os meus treinos em janeiro de 2000, sendo graduado faixa marrom, 1° kyu, em dezembro de 2002.

 

Os primeiros treinos foram um tanto quanto difíceis para mim, por não conseguir, inicialmente, desvincular-me da idéia de que já havia praticado o Judô, não que isso prejudicasse, mas a minha indisciplina mental prejudicava-me no início.

 

Nos primeiros exames, fui estimulado por Sensei Rodrigo, pois eu não pretendia realizar mudanças de faixas. A minha idéia era de permanecer um ano na faixa branca para então, somente depois realizar o primeiro exame. O Sensei demoveu-me dessa idéia. E eu comecei a fazer os exames, que muito me estressava, como me estressaria até hoje, pois é uma situação na qual se fica muito exposto. Dos exames que realizei, um me preocupou muito, foi quando da presença de Shihan Kawai, uma vez que eu guardava receio do rigor que presumia vir dele na cobrança de apuro na execução das técnicas, mas, nesse exame, fui convidado a ser examinado por uma banca da qual participava Sensei Rodrigo. Acredito que, em todos os meus exames, inclusive o para a promoção a 1° Kyu, Sensei Rodrigo estava na banca em que fui examinado.

 

Do que venho aprendendo sobre o Aikidô, percebo, entre outros tantos benefícios a respiração, a postura e a filosofia sobre a vida, sendo este aspecto o mais difícil de ser entendido na prática creio por muitos praticantes, não me excluindo deste rol, porque, na verdade, a proposta filosófica é entrar na técnica para sair dela, e, à semelhança do criador do Judô, Jigoro Kano, O O-Sensei propõe o Aikidô, como filosofia transformadora da criatura humana, praticado fora do Dojô. Mas acredito que o primeiro passo, sem o qual não é possível chegar ao seguinte, é buscar praticá-lo dentro do próprio Dojô do Aikidoísta.

 

MARCOS JOSÉ DO NASCIMENTO – Servidor Público Federal, 1° Kyu de Aikidô e Yudansha de Judô.


Os Três Níveis do Judô – Por Jigoro Kano

22/12/2008

Jigoro Kano estabeleceu três aspectos do Judô: treino de defesa contra um ataque, desenvolvimento do corpo e da mente e colocar a energia em uso a benefício da sociedade.

 

De igual maneira, ele também enfatiza a existência de três níveis do Judô, considerando na base, como nível elementar, o treino da defesa contra um ataque, em seguida, o próximo nível, é colocado o treino do corpo e da mente, e no nível mais elevado encontra-se o estudo da maneira de como colocar a energia em uso na sociedade.

 

Nesse aspecto, Mestre Jigoro Kano afirma que, ao dividir-se o Judô em três níveis, ele não se limita ao treino de luta que é realizado no Dojô e, ainda que haja, o treino da mente e do corpo, se não se adentra a um nível mais elevado, a sociedade, em última análise, não é beneficiada.

 

Para Jigoro Kano, o aperfeiçoamento individual tem de ser colocado a bem da sociedade, não tão somente para o indivíduo que o conquistou. Ele encorajou todos os praticantes de Judô a que identificassem esses três níveis presentes no Judô, submetendo seus treinamentos sem exagerar em um desses aspectos em detrimento do outro.

 

Nível Básico

 

No nível básico do Judô, encontra-se o propósito do treino como forma de aprendizado da defesa contra um ataque, utilizando-se, na maior parte do tempo, a mão livre de armas, estas, contudo, são utilizadas, às vezes, durante a prática do Kata.

 

Nível Médio

 

No nível médio do Judô, situa-se o treino do corpo e da mente, observando a forma de as outras pessoas treinarem e, pela observação de suas técnicas, planejar a maneira de colocá-las em prática, treinando o corpo e a mente, controlando as emoções e, por fim, desenvolvendo a coragem. Tudo isso significa fazer-se apto ao total controle do corpo e da mente.

 

Dessa prática, advém a satisfação conquistada no treino, a competição e o prazer por alcançar o domínio de uma habilidade, alcançando sentimentos estéticos.

 

Nível Elevado

 

O nível mais elevado do Judô é alcançado quando se realiza o mais efetivo uso da energia física e mental, adquirida nos níveis básico e médio, a bem da sociedade.

 

Esse nível possui uma ampla aplicação, requerendo uma grande criatividade. Nas atividades do dia a dia, elas podem ser avaliadas se são ou não realizadas valendo-se do mais efetivo uso da energia física e mental.

 

Esse nível de treino, com o uso da energia física e mental da forma mais efetiva, envolve aspectos de postura mental frente às situações da vida, inclusive. A angústia, o sentimento de lamentação e de preocupação, originam-se do uso inadequado da energia mental, causando o seu desperdício.

               

 

Referência Bibliográfica: Mind over Muscle – Writings from the founder of Judo – Jigoro Kano – Kodansha International – 2005.

 

Colaboração e Tradução: Marcos José do Nascimento – 1° Kyu (Faixa-Marrom) de Aikidô da Academia Central de Aikidô de Natal e Faixa Preta de Judô da Academia Higashi em Natal/RN


OS SAMURAIS E O JUJUTSU – Por Marcos José do Nascimento

24/11/2008

Os sistemas de combate desarmado no Japão têm a sua origem debitada a muitos homens, em especial aos samurais, exímios na arte da luta armada e desarmada. Foram eles os responsáveis pela criação de vários sistemas de combate com e sem arma, assim como a criação de diversas armas usadas nos combates, aprimorando o seu uso.

 

Os clãs japoneses eram os destinatários finais desse desenvolvimento de lutas armadas e desarmadas, pois patrocinavam esse desenvolvimento, ao mesmo que os samurais granjeavam maior projeção social nesse intercâmbio de interesses.

 

A partir do século XII, os bushis assumiram posição de liderança na sociedade japonesa e esse apogeu só findaria já na segunda metade do século XIX, a partir da Restauração Meiji, em 1868. Mas até lá, o domínio samurai determinou muitos dos valores e costumes da sociedade japonesa, influenciando sobremaneira toda a sua população.

 

Os valores transmitidos pelos samurais estão presentes hoje nas mais variadas formas de lutas japonesas, armadas e desarmadas. Elas são herdeiras desses valores e suas técnicas são a adaptação de técnicas mais antigas a uma nova realidade e necessidade hoje presentes em sociedades que não se utilizam mais da forma combate samurai usada no campo de batalha. No entanto, na época desses combates travados pelos bushis a habilidade técnica fazia a diferença entre a derrota ou a vitória, entre a vida e morte.

 

Os samurais possuíam nas formas armadas de lutar o principal meio de combate, e para uma eventualidade de perda de suas armas no campo de batalha, tiveram de desenvolver formas de combate desarmados. Essas maneiras de travar a luta sem armas, inicialmente, possuíam diversos nomes: Ywara, Tai-Jutsu, Kogusoku, Kempo e Hakuda, dentre eles.

 

A partir do século dezessete, o termo foi unificado sob o nome de Jujutsu, passando a identificar as diversas formas de luta desarmada que antes possuíam diferentes nomes.

 

Surgiram vários estilos de Jujutsu, denominados Ryu, alguns dos quais existentes até hoje no Japão. A versão da origem dos diversos estilos é variada, em alguns casos. Podemos destacar, entre outros estilos, o Yoshin-Ryu, Takenouchi-Ryu, Tenjin-Shinyo-Ryu, Shin-no-Shindo-Ryu, Kito-Ryu, Totsuka-Ryu, esta última praticada por diversos mestres da Academia de Polícia de Tóquio, na segunda metade do século dezenove.

 

Com a Restauração Meiji, em 1868, diversas práticas japonesas tradicionais começaram a ser vistas como anacrônicas pelos mais jovens e até por alguns adultos, devido à forte influência ocidental que tomava conta da sociedade japonesa da época. No entanto, ainda assim, diversos mestres e alunos, bem como considerável parcela da sociedade resistiu a esses ventos que varriam o cenário de então, preservando as práticas antigas, bem como as adaptando a uma nova realidade.

 

Dessa maneira, o Jujutsu que servia ao samurai no campo de batalha, foi se adaptando às necessidades do homem comum que vivia na cidade, bem como começou a perder o seu caráter secreto, pois até então, os conhecimentos eram passados pelo mestre do Dojô ao aluno que herdaria escritos secretos do funcionamento das técnicas, e as diversas academias não intercambiavam seus conhecimentos, mantendo-se isoladas umas das outras, devido à herança ancestral advinda desde quando os samurais tomaram as rédeas do poder no país, a partir do século doze.

 

Já próximo do final do século XIX e início, começa a despontar a idéia do “”, caminho, fazendo-se um transição do “Jutsu”, técnica, agora se trazendo uma preocupação mais voltada para a formação ética do combatente, em lugar de centrar-se os treinos apenas nas técnicas, não obstante não se pode afirmar que mesmo no período anterior não haver sido transmitidos ensinamentos de cunho moral e ético aos praticantes, contudo, a preocupação maior estava voltada para a técnica em si.

 

O primeiro a valer-se dessa idéia foi Jigoro Kano, criador do Judô, em 1882, ao transformar diversas técnicas de diversas escolas de Jujutsu em uma nova forma de combate que levou ao conhecimento do ocidente.

 

Com essa nova preocupação, percebeu-se que as práticas de arte militares propiciariam outros ganhos além do domínio de uma técnica de luta, mas contribuiriam para a formação do caráter do seu praticante, levando-o a prestar uma colaboração mais positiva na sociedade em que vivia. Aí nasce a fase do “”, saindo-se do “Jutsu”.

 

Usamos o termo “artes militares”, por entender que seja mais apropriado ao que costumeiramente conhecemos como “artes marciais”, posto que marcial é uma palavra ligada à Marte, o deus da guerra da mitologia romana, e o Japão não sofreu essa aculturação do ocidente, não obstante alguns mestres japoneses, em suas obras, usarem o termo “marcial” em referência a esses sistemas de combate, para um melhor entendimento dos ocidentais. E essas formas de combate são, na verdade, de origem militar, guardando, até hoje, traços característicos dessa identidade pela disciplina e hierarquia que promovem em seus ambientes.

 

É provável que algumas práticas ou praticantes, mesmo no dia de hoje, ainda não tenham se apercebido dessa realidade e, não obstante, estarem realizando uma prática dentro do “”, permaneçam mentalmente ainda no “Jutsu”.

 

Referências Bibliográficas:

 

01 – Jigoro Kano e T. Lindsay – 1887 (Relatório da Sociedade Asiática do Japão – Volume 15).

02 – The Father of Judo: a biography of Jigoro Kano – Brian N. Watson – Kodansha International – 2000.

03 – The Canon of Judo – Classic Teaching on Principles and Techiniques – Kyuzo Mifune – Kodansha International – 2004.

04 – Judo Formal Techiniques – A Complete Guide to Kodokan Randori no Kata – Tadao Otaki & Donn. F. Draeger – Charles E. Tutlle Companhy – 1997.

05 – Kodokan Judo – Jigoro Kano – Kodansha International – 1994.

06 – Segredo dos Samurais – As Artes Marciais do Japão Feudal – Oscar Ratti & Adelle Westbrook – Tradução de Cristina Mendes Rodrigues – Madras – 2006.

 

Colaboração: Marcos José do Nascimento – 1° Kyu (Faixa-Marrom) de Aikidô da Academia Central de Aikidô de Natal


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