REFLEXÃO SOBRE A ESSÊNCIA do AI do KI e do DO – Por Pablo Ricardo Medeiros

23/10/2014

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Certa vez o Ô-Sensei disse: “Eu não criei o Aikidô. Aiki é o caminho de Kami. É fazer parte das leis do universo. É a fonte dos princípios da vida. A história do Aikidô começa com a origem do universo.” A leitura do livro de Mitsugi Saotome reúne a meu ver, o que mais se aproxima da essência do Aikido.

Todos, buscamos ou imaginamos o caminho que nos leva ao Criador. Todas as religiões visam a religação com o Deus que apregoamos. Todas elas trazem conceitos de paz na terra, mas cada um com o seu próprio entendimento abstrato. Deus é um só, mas aos olhos das suas criaturas, tem muitas faces.

O Aikido é um dos caminhos que também visa buscar essa reconexão com a energia criadora a que nominamos de Deus. O arquiteto desta arte a que hoje conhecemos por Aikidô era um japonês que foi esculpido pela sua cultura e profundamente influenciado pelas tradições da religião xintoísta e budista. A arte era a Katana (espada) e o seu caminho o Budô.

Na leitura do livro de Saotome, me sinto, pois, preenchido com um conteúdo complexo e denso, que ao meu ver, dá sentido a esta arte que praticamos dentro do tatame no dia a dia. Resumiria assim o Aikido, se pudesse, na caminhada que leva à adaptação (musubi – através dos movimentos) indo de encontro ao equilíbrio e harmonia (satori). Por vezes e equivocadamente o aikidô é entendido como sendo apenas uma arte marcial de defesa pessoal. A prática nos leva a muito mais que isso. Ela nos mostra o quão profundo e diverso são os caminhos que podemos traçar para atingir os nossos objetivos. O refinamento ou não desta arte dependerá do que nós temos para trabalhar em nossos interiores.

Um trecho da obra de Saotome traduz bem esse conceito: “Muitas pessoas escalam o Monte Fuji a cada ano, mas nem todas vão pelo mesmo caminho. O Fuiyama tem diversos lados e cada pessoa sobe por uma razão diferente, com diferentes habilidades. Não se discute qual caminho é o certo, porque o cume é o cume e todos os caminhos levam à mesma verdade última. Quem haverá de negar que o espírito de Deus falou pelos lábios de Jesus? Quem poderá dizer que os ensinamentos do Buda não eram os ensinamentos de Deus? E não é a Deus que Maomé dirigia suas preces fervorosas? Todos os grandes mestres espirituais mostraram o caminho para o alto, para a realidade absoluta que é a Conciência Universal. O caminho não tem importância: o importante é seguir e imitar um grande espírito, um grande mestre, ser sincero e devoto da caminhada.

Quando parte do tratado de Saotome é dito que “A unidade é o poder de Deus que resolve todos os conflitos. O processo de unificação dos opostos é musubi, a junção das duas faces de Deus.“, entendo que as duas figuras (uke e nague) são a personificação na arte materializada do aikidô das forças que se complementam buscando o equilíbrio e o diálogo contínuo com a energia criadora. Se o musubi é movimento que cria e une, esta, é a verdadeira força da alquimia criadora. A mudança é a única constante universal, então a adaptação deveria ser a regra matriz para a convivência com essa lei universal. Não existe harmonia sem o conhecimento prévio do conflito.

O racional enxerga os extremos como protagonistas do conflito. Felicidade e desventura, amor e ódio, moralidade e imoralidade, estes, são elementos que só tem sentido com relação ao observador. Não se conhece a alegria sem vivenciar o sofrimento. No prazer há dor.

Então…, o termo “musubi” traduz a unificação de forças contrárias, de opostos. Àquele, é o movimento que produz energia criadora para fusão dos contrário, do yin e yang. Ele é o elemento da alquimia de Deus. É o ciclo do vir a ser. No musubi chegamos ao “satori“, que é aproximação com o Deus, com a harmonia. Esta é a verdadeira religião, é o que nos conecta e coloca-nos novamente em sintonia com o Criador. É o retorno a casa do pai. Não existe harmonia sem caos prévio, sem conflitos, sem contrários. Nessa experiência vivenciada na própria pele somos levados ao patamar que exala serenidade e paz harmoniosa.

Assim, pensar o aikido e o que ele nos traz, tentando o definir em absoluto, é muito difícil, na medida também que é muito fácil. Treinar e buscar vivenciar intensamente as práticas é dádiva a ser abarcada de coração.

A sinceridade nos movimentos e a constância da prática para toda a vida, naturalmente para aqueles que encontraram no AI, a harmonia, no KI, a energia propulsora da própria existência, e no DO, o caminho não definitivo, mas essencial e confortador para essa curta passagem por esse mundo, é absolutamente iluminador.

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*Pablo Ricardo Medeiros é servidor público estadual e aluno, faixa-roxa, da Academia Central de Aikidô de Natal.

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Colaboração:

http://www.impressione.wordpress.com

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Kenjutsu – A Arte da Espada

14/01/2010

O Kenjutsu (a arte da espada) é reconhecido geralmente como arte combativa. Começa sempre com a espada desembainhada, já com uma intenção agressiva. Os ensinos sistemáticos históricos primeiramente registrados da espada longa japonesa começaram aproximadamente em 800 d.C. Desde esse tempo, de cerca de 1.200 estilos (escolas) foram documentados. Muitos praticantes do kenjutsu começaram a questionar se uma compreensão mais elevada poderia ser conseguida com a prática e o estudo com a espada. Assim, o kenshi (espadachim) transformou a “arte da espada” (kenjutsu) em um “caminho da espada” (kendo). Daí surgiu o kendô, por volta do século II.

Kenjutsu é considerado um bujutsu clássico (arte da guerra ou arte marcial), sendo formulado bem antes da reforma de Meiji (o clássico/moderno, que divide a linha). O ryu (escolas) clássico do kenjutsu tende a ser completamente secreto no que diz respeito à prática de suas técnicas, sendo muito fechada a pessoas de fora da Arte do Bugei. O ryu clássico do kenjutsu é o mais próximo ao treinamento clássico do guerreiro no mundo moderno. Os exemplos são Yagyu Shinkage Ryu, e Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu.

A utilização da Katana, dentro da vestimenta do Kenjutsu tradicional, consiste geralmente do hakama, no keikogi e da obi (faixa).

Os Kata (seqüência de movimentos formulados ou exercícios) é a maneira usual de aprender os movimentos intricados requeridos. Inicialmente pratica-se individualmente, mas pode-se praticar em dupla ou até mesmo com múltiplos indivíduos. A ferramenta-padrão da prática é a bokken (espada de madeira simulada) ou uma lâmina real. O corte real, e o golpe da lâmina contra feixes amarrados e caules de bambu, chamado de tameshigiri, dão à prática mais avançada do ryusha (praticante de um estilo) o impacto real da lâmina de encontro a um alvo.

Geralmente (mas não sempre) em artes marciais japonesas, os objetivos do “Do” são para melhorar o interior, enquanto os do “jutsu” concentram-se em ensinar as técnicas da guerra. Note que isto é uma convenção moderna, não algo que reflete o uso histórico dos sufixos: o que nós chamamos agora de kenjutsu pode uma vez ter sido usado como o kendo.

A convenção da terminologia de jutsu/do tal como é usada no ocidente foi popularizada em sua maior parte por Draeger. Definindo terminologicamente, a arte de ganhar lutas reais com espadas reais é kenjutsu. O objetivo preliminar do kenjutsu é vitória sobre oponentes; o objetivo preliminar do kendô é melhorar-se com o estudo da espada. O kendô tem também um aspecto forte, com os grandes campeonatos, assistidos avidamente pelo público japonês. Assim, o kendô pode ser considerado o aspecto filosófico/esportivo japonês.

Em termos de aprendizagem, o kenjutsu tem um currículo mais completo. No kendô, a necessidade limita a escala das técnicas e dos alvos. Os praticantes de kenjutsu não usam geralmente o shinai no treinamento, preferindo usar bokken (espadas de madeira) ou katana (espadas de aço) a fim de preservar as técnicas do corte da luta real da espada. O treinamento de Kenjutsu consiste em praticar a técnica do corte e executar o kata com o parceiro. Por razões de segurança, a prática livre é raramente feita com katana.

Colaboração: www.bugei.com.br


A História da Espada Japonesa

15/09/2009

Durante do período Jokoto (800 dC), as espadas usadas eram retas, com fio simples ou duplo e pobremente temperadas. Não havia um desenho padrão, e eram atadas à cintura por meio de cordas. Evidências históricas sugerem que elas eram feitas por artesãos chineses e coreanos que trabalhavam no Japão. As primeiras espadas que se tornaram a arma padrão do samurai foram feitas pelo ferreiro Amakuni, em meados do século VIII.

A adoção do eficiente fio curvado foi um grande passo tecnológico para a época, que coincidiu com as melhorias nas técnicas de temperamento. A era de ouro da manufatura de espadas deu-se sete séculos mais tarde, entre 1394 e 1427. De qualquer modo, quando se estabeleceu a infantaria de massa em substituição à cavalaria das épocas anteriores, a pesada espada do tipo “tachi”, que servia ao cavaleiro montado, foi substituída pela leve kataná, mais curta. Antes, o cavaleiro portava a espada com a lâmina para baixo e a desembainhava em um movimento para cima, de modo que não ferisse o cavalo. Já a kataná passou a ser portada com a lâmina voltada para cima.

Tal mudança na forma de porte da espada significou o início de um método de combate completamente novo, que teria um efeito dramático no modo como o samurai encarava a guerra.

Com a espada segura firmemente na cintura, o samurai a sacava e cortava rapidamente num só movimento, defendendo-se sem precisar sacar primeiro e só então adotar uma postura defensiva. Desde então, o Kenjutsu (uso da espada já sacada) e o Battojutsu (saque e corte imediato) tornaram-se disciplinas separadas, porém paralelas. Várias escolas e sistemas se estabeleceram, então, para o ensino de ambas.

Durante o Sengoku Jidai, a falta de um governo central forte encorajou os daimyo a lutar entre si para expandir territórios. Cresceu a demanda por armas, e os ferreiros iniciaram uma produção em massa de espadas de baixa qualidade. Antes, o aço era cuidadosamente elaborado, forjado e temperado num processo artesanal. Depois, passou a ser importado de forma já pronta, para facilitar a forja rápida. A espada resultante, embora bela, era menos durável e imprecisa. A verdadeira beleza da espada está em sua precisão, durabilidade e aparência. Só quando esses três elementos estão combinados, a arma terá boa performance nas mãos do espadachim.

Espadas que avariam em contato com um objeto duro, ou que revelam uma parte interna de baixa qualidade, não podem ser consideradas legítimas “Nippon To” (espadas japonesas). Não merecem compartilhar da reputação estabelecida pelas lâminas dos grandes mestres ferreiros, que produziam com métodos tradicionais. Hoje, apenas as escolas de Toyama e Nakamura fazem o teste de corte (Tameshigiri). No final da batalha de Sekigahara, em 1600, venceu o general Tokugawa Ieyasu, e seguiram-se trezentos anos de paz.

Nesse período, não havia outro modo de testar uma espada senão pelo corte de corpos de criminosos mortos. Portar espada era proibido, segundo a lei de 1876. Desde que surgiu um interesse no Ocidente pelas artes marciais do Japão, estipulou-se que a verdadeira arte da espada morreu com a restauração Meiji, ou logo após o uso de espadas pelos samurais ter sido esquecido. Alguns historiadores afirmam que a arte da espada começou a declinar após a batalha de Sekigahara, no período Tokugawa, e nunca mais foi recuperada. A conclusão é que a arte da espada morreu no final do século XIX.

Felizmente, nada disso é verdade. Em 1875, no começo da era Meiji, o Japão vislumbrava seu moderno futuro industrial e a Toyama Gakko, sob nova direção, provou ser o veículo a carregar a tradição da espada rumo ao século XX. Fundada para treinar guerreiros militares, além de outras disciplinas, sua base era o “Gunto Soho”, ou “método da espada militar”. Essa combinação de técnicas de antigas escolas famosas, principalmente a Omori Ryu, e sua adoção pelo exército, levou mais tarde à fundação da escola Toyama de espada, em 1925.

Outras escolas, entretanto, não obtiveram o mesmo sucesso. Escolas que antes ensinavam os antigos métodos de samurai agora voltavam-se ao mercado de massa. Em 1870, muitos dojôs na área de Tóquio ensinavam técnicas menos vigorosas. Quando o Kenjutsu dos samurais tornou-se o Kendo do praticante comum, muito da tradição foi perdido.

Porém, as artes tradicionais ainda sobreviviam em algumas escolas militares. Até hoje, o Battojutsu permanece pouco conhecido fora dos círculos militares. A beleza dessa arte consiste em sua simplicidade e eficiência mortal, sem posturas artificiais ou teatrais. Ela é simplesmente uma maneira eficiente, prática e rápida de cortar um oponente num decisivo ato de auto-defesa. Seu poder destrutivo é devastador. O Battojutsu pode apenas ser aprendido em uma escola tradicional onde os métodos antigos, baseados numa experiência de combate real, ainda são seguidos. Então, o método do corte pode ser compreendido em sua plenitude.

Colaboração: www.bugei.com.br


O Aikijujutsu

17/08/2009

Aikijujutsu, arte marcial praticada antigamente pelos nobres japoneses, por sua riqueza de conhecimento e dificuldade. Perde-se na história a época ou período do surgimento da arte, já que o Japão antigo não exercitava a prática da escrita, restringindo o conhecimento passado apenas entre os familiares das aldeias. Diz-se que sua origem vem da arte da espada, o Kenjutsu, quando nas batalhas não havia outras soluções para a defesa que não o conceito do Sukima (vazio).

O Sukima representa um fundamento básico do Aikijujutsu, e simboliza fazer com que um adversário (inicialmente portando a espada Katana) não consiga atingir seu objetivo, apenas usando os conceitos dos quatro elementos, água, fogo, ar e terra. A partir deste princípio surgiu o primeiro movimento que hoje constituí o Aikijujutsu.

Arte muito antiga, baseada na harmonia e na utilização da energia  interior, conhecida  como Ki. O Ki é o princípio que rege o universo do Aikijujutsu, focalizando os estudos em sua condução e direcionamento. Bastante usada por velhos e mulheres, por sua riqueza e eficácia da utilização da não-força; alguns a consideram como a arte de lutar sem lutar. É baseada na utilização de chaves, torções e imobilizações, de modo a invalidar o inimigo buscando a harmonia do corpo.

O nome da arte pode ser traduzida para o português da seguinte forma:

 Ai: harmonia,amor 

 Ki: energia, força vital

 Ju: flexibilidade

 Jutsu: arte

O AikiJuJutsu, desde a organização por Minamoto no Yoshimitsu, e até mesmo antes, teve muitos caminhos distintos, que resultaram em diferentes estilos, como o Daito Ryu Aiki JuJutsu, fundado por Sokaku Takeda, e também o Aiki JuJutsu estudado no Kaze no Ryu, que se difere daquele em muito pela influência das artes de guerra nos povos antigos, os Ainos, que originaram o povo Shizen.

O Aikijujutsu de Takeda veio da linhagem dos Minamoto, que organizaram as técnicas Aiki e o fundaram, aproximadamente no séc.XV. A arte se desenvolve através da circularidade, tal como no universo, pois o praticante é um “sol”, que mantém seus inimigos em sua órbita, sem jamais deixar de iluminá-los. Porém, sempre após o dia, vem a noite, que esconde as práticas mais fortes e rígidas voltadas à guerra, onde se encontra o que chamamos Hidoi.

A complexidade de seu sistema a consagrou como uma arte de nobres costumes. Sua dificuldade se encontra exatamente na harmonia interior do praticante, não se deixando levar por qualquer sentimento ou emoção que afetasse a sua técnica.

Colaboração: www.bugei.com.br


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