O Significado de “Onegai shimasu” – Por J. Akiyama

19/07/2013

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Onegai shimasu” é uma frase difícil de traduzir diretamente para o português.

A segunda parte, “shimasu”, é basicamente o verbo “suru“, que significa “fazer”, conjugado no tempo presente. “Onegai” vem do verbo “negau“, que significa literalmente “orar por (algo)” ou “desejar (algo)”. O “O” no início é o “honroso O” que torna a frase mais “honorífica”. É claro, nós nunca devemos dizer a frase sem esse “O“, (Não confunda esse “O” com o “O” em O-Sensei. O “O” em O-Sensei é realmente “Oo“, significando “Grande” ou “Grandioso”).

Na cultura japonesa, usamos “onegai shimasu” em várias situações. A conotação básica da expressão é o sentimento de expressar “boa vontade” em relação ao futuro de um encontro entre duas partes. De fato, é muitas vezes como dizer “Espero que nosso relacionamento traga boas coisas no futuro”.

Costuma-se usá-la durante a celebração do ano novo dizendo “kotoshi mo yoroshiku onegai shimasu“, que significa “também este ano desejo boas novidades”. Capte a essência. Outra conotação é “por favor” como em “por favor, permita-me treinar com você”. É uma solicitação frequentemente usada para pedir a outra pessoa que lhe ensine algo, expressando que você está pronto para aceitar o ensinamento da outra pessoa. Se você está se sentindo realmente modesto, pode dizer “onegai itashimasu“, que usa “kenjyougo“, a forma “humilde” do verbo. Isto o põe numa posição mais abaixo hierarquicamente do que a pessoa com a qual está falando (a menos que ela use a mesma forma).

A pronúncia correta seria: o ne gai shi ma su. (Falando tecnicamente, o último “su” é uma sílaba pausada-fricativa, sendo pronunciada como o “s” final em “gás”, e não como um “su” longo – tal como em “sul”).

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Texto original em inglês: http://www.aikiweb.com/language/onegai.html

Tradução: http://www.aikidobahia.com.br

Colaboração:

www.impressione.wordpress.com

www.aikidobahia.com.br

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Aikidô no Kokoro – Por Kisshomaru Ueshiba

21/03/2012

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Empreendi o treinamento do corpo através do budô e, ao mesmo tempo em que aprendi todos os segredos, obtive uma verdade ainda maior. Quando compreendi a essência da realidade universal, vi claramente que os seres humanos devem unificar o ‘sentimento’ (kokoro), o corpo e o ki que une os dois e que a pessoa deve harmonizar sua atividade com a atividade de todas as coisas do universo, ou seja, dependendo da atividade sutil do ki, o sentimento e o corpo se harmonizam e, também, se harmoniza a relação entre o indivíduo e o universo.

Se não se utiliza corretamente a atividade sutil do ki, o sentimento e o corpo das pessoas adoecem, o mundo se torna caótico e o universo todo fica em desordem. Consequentemente é necessário harmonizar os três corretamente com a atividade de todas as coisas do universo para que haja ordem e paz no mundo. O Aikidô é o caminho da verdade. Treinar-se no Aikidô é treinar-se na verdade. Pela dedicação, treinamento e compreensão, nascerá a técnica divina.

Somente dedicando-se aos três tipos de treinamento mencionados a seguir, é que a verdade inabalável da força extraordinária se tornará parte do nosso sentimento e do nosso corpo:

1. Treinar para harmonizar o sentimento com a atividade de todas as coisas do universo;

2. Treinar para harmonizar o corpo com a atividade de todas as coisas do universo;

3. Treinar para fazer com que o ki que une o sentimento e o corpo se harmonize com a atividade de todas as coisas do universo.

Somente quem pratica e realiza esses três pontos simultaneamente, não apenas teórica, mas praticamente, no Dojô e em cada momento da vida diária, que é considerado o verdadeiro Aikidoca.

O Mestre Ueshiba ensinou repetidas vezes:

Cada técnica de uma arte marcial deve estar de acordo com a verdade do universo. Se isso não acontecer, a arte marcial estará isolada e com natureza diferente da arte marcial criadora de amor, o ‘take musu’. O ‘Aiki’ é desde a sua origem um ‘take musu’ por excelência. Aqui, marcial ‘take’ significa o bramido heroico, a vibração do corpo através do poder do ‘aum’ (o poder da respiração) que ressoa no espaço. A vibração interna do corpo deriva da unificação sentimento / corpo, que se sintoniza com a vibração do universo. A resposta mútua e o intercâmbio produzem o ‘ki’ do ‘Aiki’. A essência do Aikidô é o ecoar da vibração interna do corpo com a vibração do universo. Disso nascem o calor, a luz e o poder unidos num espírito plenamente realizado. O delicado ecoa do interior do corpo e a vibração do universo amadurece a atividade sutil do ‘ki’ e geram o ‘takemusu aiki’, a arte marcial que é amor e o amor que não é nada mais que arte marcial”.

A resposta à pergunta de como se alcança a unidade do ‘ki’ universal com o ‘ki’ individual, sua atividade harmoniza e resposta mútua, está no treinamento e na prática intensivos. Isso faz da harmonia e do amor a essência do Aikidô. Ambos estão no cerne do Aikidô. O fundador considerava que esta era a essência última e a verdade maior.

Extraído do livro “Aikido no Kokoro” (Kisshomaru Ueshiba) – Tradução e adaptação Ivan Sensei.

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Colaboração:

www.Aikidopesquisa.com.br

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Ukemi e a função do medo – Por Rubens Caruso Jr.

17/07/2009

Normalmente enxergamos a função do Uke como sendo simplesmente ser imobilizado, arremessado ou ferido. Nada poderia estar mais distante de sua verdadeira função durante o treinamento. Aprender a receber corretamente uma determinada técnica, proporcionando ao parceiro a possibilidade de estudá-la corretamente é algo realmente difícil.

Geralmente cedemos com relutância nosso corpo ao parceiro, esperando somente nossa vez de executar a técnica. Agindo dessa forma impedimos o crescimento de nosso parceiro e o nosso próprio, e pior ainda, acabamos por cultivar os sentimentos mais baixos como o ódio, o rancor e a vingança. . . Acabando por passá-los também ao parceiro, criando assim um círculo vicioso que somente terá fim com a destruição de ambos.

Muitas vezes durante o treinamento colocamos o fardo de nossa própria segurança excessivamente sobre os ombros do Nague, culpando-o por nossa falta de naturalidade e capacidade que muitas vezes vem de uma total falta de vontade em doar-se.

Aprender a receber um Ukemi leva muito tempo, mas certamente levará uma eternidade se o Uke não aprender a doar-se completa e construtivamente à sua função. Quando digo doar-se, quero dizer que você deve ir além do conceito que tenha sobre suas próprias limitações, e somente conseguirá isso cultivando a modéstia e a sinceridade além de uma atitude de cooperação.

O medo faz parte de nosso dia a dia, o Ukemi ensina não como extingui-lo, mas sim visualizá-lo como realmente é, nos possibilitando usá-lo de uma forma construtiva em nossa vida. Normalmente o receio de nos ferir faz com que acabemos por agir de uma maneira destrutiva para com os outros, utilizando como ferramentas os sentimentos como o ódio, rancor, repulsa e inveja. O verdadeiro estudo do Ukemi cultiva valores mais elevados, que nos conduzem à uma compreensão da verdadeira função do medo em nossa vida.

Abaixo coloco algumas indicações que consegui nos últimos anos, que podem ajudar à aprimorar sua arte do Ukemi e conseqüentemente seu Aikidô:

1) Enquanto iniciante esforce-se para aprimorar as qualidades físicas de seu Ukemi. É através dele que você alcançará uma compreensão melhor do coração do Aikidô.

2) Logicamente existem barreiras físicas e psicológicas difíceis de serem superadas mas não impossíveis, confie em seu instrutor, aprender a doar-se também significa aprender a confiar.

3) Quando mais experiente, aprimore-se a ponto de não opor uma resistência negativa ao Nague, mesmo que ele tente ferir-lhe aprenda a envolver-lhe no calor de seu coração transformando sua atitude de destruição em uma atitude de crescimento mútuo.

4) Cultive a entrega de si mesmo ao aprimoramento não seu, mas de seu parceiro. Isso lhe abrirá portas que jamais sonhou existirem.

* Rubens Caruso Júnior – 4° Dan de Aikidô – Aikidô Nova Era

Colaboração: www.aikidonovaera.com.br


Capacidade de Explorar o Mundo Interior – Por Roberto Shinyashiki

04/06/2009

Ficar em silêncio ajuda muito a escutar a voz da sua alma.

Você já ouviu a opinião de muitos autores a respeito da importância de seguir o seu coração. Eles têm razão: um caminho que não fale ao seu coração não alimentará a sua alma; e uma pessoa sem alma é um ser perdido no oceano da vida.

A exploração do nosso mundo interior ajuda a nos conhecer melhor e, portanto, a construir uma vida que tenha sentido. Fico muito triste quando converso com pessoas ricas e importantes que me confessam, quase chorando: é horrível ver que batalhei e consegui tantas coisas que queria, mas não sou feliz. O meu sacrifício não me deu felicidade.

É importante escutar a nós mesmos o tempo todo, para saber se estamos realizando objetivos que nascem do nosso coração. Só assim teremos certeza de que, no final da vida, não iremos nos martirizar com o arrependimento.

– Mas, Roberto, como conhecer a minha alma? Como escutar o meu coração?

Bem, a primeira dica é: faça a pergunta certa. Quando você faz a pergunta errada, o seu coração vai para muito longe. Quer um exemplo de pergunta errada? Suponha que o seu chefe foi duro com você e apontou vários problemas de desempenho no seu trabalho. Se você perguntar a si mesmo: “Por que meu chefe está me sacaneando?”, não vai encontrar uma resposta que lhe ajude a crescer.

Sentir-se vítima do seu chefe, em vez de analisar o próprio trabalho, vai deixar você distante da resposta que lhe interessa. Nesse momento o melhor é olhar para dentro de si, verificar em quais pontos o seu chefe tem razão, analisar suas atitudes e tentar melhorar o seu desempenho. Seu namorado terminou o relacionamento com você. Em vez de perguntar por que ele a sacaneou, seria mais interessante entrar em sintonia com os próprios sentimentos. Se a tristeza aparecer, o melhor é chorar em paz, e só depois analisar seu comportamento.

Talvez você se dê conta de que estava sendo muito crítica com seu namorado e, a partir daí, aprenda a admirar mais a pessoa que você ama, percebendo com isso o que pode melhorar em sua maneira de demonstrar amor. Se você fizer as perguntas certas, conseguirá aprender muito sobre si mesmo. Faça suas perguntas, mesmo que elas fiquem muito tempo sem resposta:

• O que é essencial para você?

• Qual é a sua meta profissional?

• Como gostaria de estar daqui a dez anos?

• O que você precisa fazer para realizar seus projetos?

• A sua vida está do melhor jeito que poderia estar neste momento?

A capacidade de explorar nosso mundo interior nos ajuda a tomar melhores decisões e a evitar problemas decorrentes da nossa maneira de ser. Quando tinha aproximadamente 20 anos eu era o rei das decisões impulsivas. Decidia comprar alguma coisa sem pensar e alguns dias depois tomava consciência de que tinha feito besteira.

Depois de algum tempo decidindo errado, prometi a mim mesmo que sempre me daria um prazo de uma semana para pensar antes de comprar qualquer coisa mais cara. Isso evitou que eu fizesse muitas bobagens. Conhecer-se melhor pode ajudá-lo a tomar decisões que lhe façam realmente crescer.

Certa vez um deputado que gostava muito do meu trabalho telefonou-me e convidou-me a assumir um cargo de diretor de um importante hospital público. Consegui pedir a ele um prazo de um dia antes de lhe dar a resposta, o que foi um grande sacrifício, pois a minha vontade era dizer sim na hora. Fiquei pensando sobre o assunto e me dei conta de que aceitar o convite para cuidar de um hospital não tinha o menor sentido, considerando a minha vocação de psiquiatra. O que eu gostava mesmo era de escutar as pessoas e ajudá-las a se realizar. Foi um alívio quando, no dia seguinte, liguei para dizer “não, obrigado!”. Minha alma celebrou a minha decisão.

Algumas vezes, sua rota precisa ser reajustada e você só descobrirá isso se souber conversar consigo mesmo. Ficar em silêncio ajuda muito a escutar a voz da sua alma.

Sabe quando rastreamos todos os arquivos e pastas do computador em busca de alguns vírus que possam ter invadido o sistema? Sabe quando navegamos pela internet e mantemos o antivírus acionado para impedir a entrada de elementos suspeitos? Na vida real, o autoconhecimento é nosso melhor antivírus. Para que você não perca todos os seus documentos nem tenha de configurar novamente sua máquina, pergunte-se sempre o que realmente importa em cada momento de sua vida.

* Roberto Shinyashiki é psiquiatra, palestrante e autor de 13 títulos.

Colaboração: http://shinyashiki.uol.com.br


O Ego e o Aikidô – Por José Ribamar Lopes

22/05/2009

Não cabe manifestação de ego no Aikidô. É seu pré-requisito a intenção de desprendimento ao sentimento egóico. Aikidô é, acima de tudo, arte de iluminação, e a iluminação nunca se dá em benefício de um único ser. Lembremo-nos que Ô-Sensei era extremamente religioso, e este sentimento foi fundamental na formação do Aikidô.

Não há harmonia com a natureza, preso há uma vontade individual. A natureza não tem vontade…ela é. Assim devemos ser no Aikidô, livres e fluidos. Se há vontade não há fluidez, não há harmonia, não há Aikidô, que é o caminho da harmonia pela energia vital.

Levados por sentimentos adquiridos nas atividades esportivas, bem como no nosso meio social competitivo, preocupamo-nos em demonstrar destreza, conquistar graduações, obter destaque… Trabalha contra nossa prática a comparação com os outros, o objetivo de sermos os melhores. A busca da superação deve ser sobre nós mesmos. A melhora obtém-se no aperfeiçoamento, que requer desprendimento e entrega à prática. Portanto, não há entrega se há apego, que são opostos entre si.

No Aikidô há reverências, submissões a regras e posturas, a conduções; há humildade. Se nossa preocupação ainda é com a obtenção da graduação, a exibição da já conquistada, o aprendizado de uma técnica que nos faça bom de briga, talvez devamos tornar a buscar informações sobre a história do fundador, que migrou seus estudos da marcialidade para a espiritualidade, do Jutsu para o Dô. Assim procedendo, talvez compreendamos o significado da arte por você escolhida, e sejamos praticantes mais tranquilos e felizes, entregue as rotações naturais.

Nesse sentido, a lição do fundador:

A Arte da Paz é o remédio para o mundo doente. Há maldade e desordem no mundo porque as pessoas se esqueceram que todas as coisas vieram de uma única força. Voltemos para essa fonte, deixando para trás todo pensamento egoísta, desejos mesquinhos e raiva. Aqueles que não possuem nada possuem tudo“.

Se você não tem nada que o ligue ao verdadeiro desprendimento. Você nunca entenderá A Arte da Paz“.

José Ribamar Lopes – Servidor Público – 2º Kyu (Faixa-Azul) – Aluno da Academia Central de Aikidô de Natal.

Colaboração: http://umditoeumponto.blogspot.com/


Aikidô… ou quase Aikidô – Por Dennis Hooker

07/05/2009

As vezes me espanto com o que vejo ou leio sobre Aikidô. Muitas pessoas desejando dizer o que é e o que não é Aikidô. Ou que isso parece ser Aikidô “mágico”, que aquilo é um Aikidô eficiente para as ruas, ou que é um Aikidô de combate, ou que é um Aikidô para um pequeno grupo, ou que o professor é isso ou aquilo. Isso parece acontecer com quase tudo na comunidade do Aikidô. Mesmo dentro de um dojô freqüentemente existem várias opiniões diferentes sobre o que constitui o Aikidô. Eu tenho minha opinião baseada em meus treinos e minha experiência de vida assim como cada um de vocês.

O que torna a atividade em que estamos engajados Aikidô e não outra coisa? Seria o fato de que há apenas um pequeno número de técnicas no vocabulário? Seria nossa habilidade de arremessar o parceiro ou de causar dor e/ou ferimento em outras pessoas que torna isso Aikidô? Deixe-me oferecer uma observação de meu ponto de vista. Eu vou de dojô em dojô e encontro pessoas envolvidas com violência controlada que chamam o que fazem de “Aikidô”. Eu vejo faz-de-conta, graduados de “vida-ou-morte”, pretensos vencedores e pretensos perdedores. Tori usando apenas a força suficiente para causar dor ao uke ou para arremessar o uke, e o uke oferecendo apenas resistência suficiente para receber a dor ou para ser arremessado. Eu acho que isso é “quase Aikidô” ou “Aikidô razoavelmente bom” porque as pessoas fazem isso há anos e parecem felizes em continuar assim. O nage nunca usa toda a sua força por medo de causar ferimento ou morte ao uke. Assim a técnica do nage nunca é realmente verdadeira e o uke normalmente segue o nage sem oferecer muita resistência, ajudando o nage a se sentir poderoso e com domínio da técnica e o ukemi do uke nunca é verdadeiro.

Isso pode ser bom para o iniciante do Aikidô, quando o estudante está em estado reacionário, reagindo ao estímulo físico do ataque do nage. Neste estágio, uke e nage estão criando a forma. Isso é tudo em que eles deveriam se concentrar. Postura correta, distância apropriada e uma interação física forte resultando em uma técnica corretamente formada e executada. Isso deveria ser feito por tantos anos quantos fossem necessários para serem capazes de aplicar a forma da técnica sem ter que pensar (no desenvolvimento de um aluno de Aikidô, este estágio é “shu“.

Shu é o estágio em que o estudante continua repetindo o ato físico da técnica ou kata pelo tempo necessário para que o ato se torne inato, que dependendo do estudante pode levar anos. Entretanto deveríamos seguir para o próximo estágio do desenvolvimento, que é a “interação”. Neste estágio começamos a entender a função das formas e como elas se relacionam conosco e nossos parceiros. Uke e nage deveriam estar em condição de interagir espontaneamente e naturalmente implementando a forma suprema com a função. É nesse ponto que realmente começamos a fazer Aikidô, ao invés de fazer técnicas com as pessoas.

A função será uma coisa no início dos anos de treinamento, e será outra coisa ao final. Infelizmente, pelo que vejo, as pessoas ficam presas ao final da primeira parte desse processo de aprendizado porque ele tem poder sobre os outros com a forma técnica e domínio com a função técnica. Alguns atingem altas graduações, mas nunca deixam essa área porque é isso o que eles consideram como Aikidô, e isso se ajusta às suas necessidades. Não estou dizendo que eles não estão praticando Aikidô. Estou dizendo é que o que eles estão fazendo não é o que eu considero como sendo Aikidô, o que é muito diferente. Acredito que o Aikidô é suficientemente grande para incorporar muitos pontos de vista. Acredito que se deve continuar com o treino e trabalhar com a função da interação até que isso tenha um significado pessoal maior que a vitória sobre os outros. Com algum grau de maestria sobre as formas e função do Aikidô, a pessoa deve começar a sentir compaixão pelos outros. O desejo de domínio físico sobre outras pessoas deve começar a desaparecer. A habilidade permanecerá, é claro.

 Durante os anos de interação a função do Aikidô transforma um poderoso praticante de artes marciais em um ser humano hábil, confiante e compassivo. Neste momento temos maestria sobre a forma e internalizamos as funções até que se tornam como andar e respirar, e não são mais compartimentalizadas como marciais. No treinamento, esta seria a fase “ha“. Ha é o trabalho da análise das formas e funções (neste caso) do Aikidô.

Então é o momento de começar a “separar” forma e função para revelar o conteúdo da atividade e seu efeito sobre minha vida e avaliar o significado para mim e como isso se integra ao que eu sou. Aikidô se torna verdadeiramente meu quando passo do Aikidô reacionário ao Aikidô de interação, e agora estou pronto para o Aikidô proativo. Muitos chamariam este estágio do desenvolvimento do Aikido de “ri,” então vou chamá-lo assim também. 

Ri é o estágio de tornar o Aikidô “nosso”. Neste estágio, devemos estar prontos para explorar além das fronteiras do que aprendemos. Ri é o momento de abrir as asas e voar. Com o Aikidô proativo tanto o uke quanto o nage podem praticar com 100% de honestidade. Com confiança nas habilidades de cada um, o verdadeiro Aikidô pode acontecer. Não fazendo Aikidô “ao outro”, mas juntos, um com o outro, a maior parte do elemento perigo é muito reduzido. O Uke pode se propor a fazer um ataque honesto com 100% de força e não oferecer nenhuma ajuda ao nage, e o nage pode redirecionar toda a força sem se conter e sem ajudar o uke. Com o uke sendo sensível à intenção do nage e o nage sensível à intenção do uke (a intenção mudará para ambos durante a ação), o Aikidô pode acontecer.

As vezes as pessoas levam isso a extremos, não chegando nem remotamente perto do contato físico. Mas se o uke está sendo 100% uke e o nage está sendo 100% nage, e ambos usam suprema forma e função, então quem pode dizer que o conteúdo não é Aikidô? Apesar de não ser meu estilo, eu posso ver a verdade nesse treinamento. Ir ao dojô diariamente para receber dor também não é a minha idéia de treinamento de Aikidô. 

Meu lado durão que não levava desaforo para casa se quebrou há muito tempo. Eu sigo em frente, usando o que acredito ser Aikidô como maneira de prosseguir. O que quero dizer com isso? Digamos que meu parceiro dê um soco não muito convincente em minha direção. Eu redireciono a energia do soco para o chão usando qualquer forma que esteja à mão. Não há energia suficiente no soco para levar meu parceiro para o chão e a função da forma foi atingida ao ser dispersada a energia, então apenas deixo estar assim. A função da forma restabeleceu a harmonia e o conteúdo do ato é Aikidô. Então, se acho necessário continuar a forma para arremessar meu parceiro ou levá-lo ao chão, eu não mais estou fazendo Aikidô com meu parceiro, estou praticando a técnica com ele. Para mim há uma enorme e significativa diferença nisso.

Tradução: Instituto Takemusso, São Paulo

* Dennis Hooker Sensei – Aikido 6º Dan, Schools of Ueshiba, Muso Jikiden Eishin-Ryu Iaijutsu 4º Dan, Shindai Dojo, Orlando – Flórida

Colaboração: www.portalaikido.com.br


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