A Prática do SEIZA

12/07/2013

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SEIZA é um modo de sentar sobre os joelhos e é usado extensivamente na arte marcial do Iaidô, bem como no Aikidô. A prática de SEIZA pode envolver estas artes, ou pode ser feita simplesmente como um “exercício sentado“. 

Sentar calmamente” usando a postura de SEIZA é uma maneira de superar os temores generalizados da vida e o medo subjacente da morte. É um excelente meio de regular as funções do corpo. Pode trazer a mente mais perto do mundo “como ele é“, numa atitude mais apropriada que seu foco habitual em “como ele deveria ser“. Em outras palavras, SEIZA é um método de passar através das ilusões da vida diária. Quando sentado, os círculos sem fim de pensamento, tão danosos à saúde mental, são rompidos e o claro frescor do simples viver no mundo é por fim liberado para aflorar.

Sente-se em SEIZA dobrando suas pernas e apoiando seu joelho esquerdo no chão. Coloque o joelho direito a uma distância de cerca de dois punhos do esquerdo. Em seguida estique os dedos do pé e posicione-os sobre o chão de modo que os dedões apenas toquem um no outro. Abaixe as nádegas de modo que elas repousem sobre ou entre os calcanhares.

Deixe a coluna ereta e a parte inferior das costas para frente de modo que se forme uma curva em S na espinha dorsal. Arredondar a parte inferior das costas ou tentar inclinar-se causará fadiga muscular. O peso do corpo deve ser centrado num ponto ente o topo dos pés e os joelhos, mais na direção dos pés.

A cabeça deve repousar solta no topo da espinha. As orelhas devem estar em linha com os ombros e o nariz em linha com o umbigo. Note que pondo o nariz nessa posição você move suas costas levemente para fora da posição vertical. No Iaidô é importante porque encoraja a pressão para a fronte. Empurre o queixo levemente e estique a base do pescoço. Isto resulta como se alguém o puxasse pelo cabelo para alongar sua espinha. Para encontrar essa linha central você pode balançar em círculos sobre as costas, parando suavemente até atingir uma posição de equilíbrio. Este centro é importante para prevenir cãibras ou fadiga enquanto está sentado.

Outra maneira de checar sua postura é imaginar uma corda atada ao topo de sua cabeça pelo lado de dentro. A corda desce por dentro do seu pescoço e tronco e é amarrada a um peso na altura do seu Tanden (cerca de 4 ou 5 cm abaixo do umbigo). Se você inclinar sua cabeça para frente ou curvar demais seu tronco a corda tocará a parte externa de seu corpo. Se você inclinar-se demais para frente ou para trás o peso baterá na linha do quadril. Ponha o peso diante do hara.

Relaxe os ombros e deixe seus braços caírem para baixo naturalmente. A mão direita é posta com a palma para cima sobre o colo, com o dedo mínimo levemente tocando a parte inferior do abdome. A mão esquerda é colocada sobre a direita, também com a mão espalmada para cima. Os dedos devem estar juntos, sem tensão alguma. Coloque as pontas dos polegares juntas de modo que elas se toquem sem pressão. Os polegares e demais dedos devem assumir uma forma oval em volta de um ponto cerca de 4 a 5 centímetros abaixo do umbigo. Este ponto é chamado de Tanden ou Saika Tanden e corresponde rigorosamente ao centro de gravidade. A mão esquerda sobre a direita representa o aspecto da quietude (“Sei” ou “In” em japonês) cobrindo o aspecto ativo (“Do” ou “Yo“). Os polegares unificam os dois princípios.

Tanden é visto como o centro do ser, em torno do qual o hara ou cordão da cintura é organizado. Este centro é o ponto a partir do qual sua vida é gerada. Variações desta forma são algumas vezes usadas, mas este é o método mais equilibrado e relaxado.

Sem inclinar a cabeça para frente, baixe os olhos e mire um ponto centrado cerca de um metro à frente dos seus joelhos. O nariz deve estar no campo de visão ou a cabeça está caída para frente. Isto serve para entrecerrar os olhos, excluindo a maior parte do campo visual sem permitir que a pessoa adormeça.

Ponha a língua no céu da boca, mantendo os dentes levemente juntos. Deixe sem ar o espaço entre a língua e o palato. Isto inibe a produção de saliva e a necessidade de engolir. A respiração é feita de modo bastante específico, e é o aspecto mais importante da prática. Os antigos taoístas acreditavam que respiração era vida e que cada pessoa foi unicamente aquinhoada com esse dom. A respiração lenta e profunda era vista como prolongadora da vida.

Inale fácil e profundamente através do nariz usando o diafragma. O abdome deve expandir-se para frente enquanto o peito expande-se sem nenhuma assistência muscular. Mantenha toda a tensão e esforço muscular fora da parte superior do corpo. Os ombros não devem mover-se para cima de modo algum, mas também não os pressione para baixo, apenas deixe a gravidade agir. Inspire até os pulmões ficarem cheios e nada, além disso, deixe o fôlego ditar a mudança para a expiração. Não retenha o ar ou faça nada de especial, simplesmente comece a exalar. A expiração é sempre mais suave que a inalação. Não deve haver nenhum ruído ou agitação, simplesmente sopre suavemente, deixando a barriga murchar. Expire até precisar inspirar novamente, e então reinicie o ciclo. Quando exalando não deixe a barriga flácida, mas mantenha-a viva e com uma certa tensão ou tônus, sem realmente enrijecer os músculos.

Nunca force a respiração em nenhuma etapa. Com a prática continuada o ritmo diminuirá até talvez dois ciclos por minuto, mas não tente atingir nenhum objetivo, apenas respire calmamente.

Seguindo seu fôlego, conte ambas a inalação e a exalação ou, mais adiante, apenas as expirações. Conte de 1 até 10 e então reinicie. Se perder a contagem, recomece de 1, não tente lembrar o último número, isso não é importante, Chegar a 10 não deve ser uma disputa ou desafio, apenas conte. Quaisquer pensamentos que surjam devem ser notados, mas ignorados. Apenas olhe para eles e deixe-os ir, não os persiga ou siga qualquer linha de raciocínio. Volte para a contagem. Todos os pensamentos devem ter o mesmo valor, nada, quando sentado. Quando sentado… Sente. Volte à contagem. O mesmo vale para qualquer luz brilhante, alucinações, pânico, medo ou outras ilusões. Simplesmente, sentando…Sente.

Quando os pensamentos não afloram tão rápidos e furiosos, você pode abandonar a contagem e simplesmente sentar. Se os pensamentos tornam a dispersá-lo conte novamente. Preferencialmente, tente sentar em Seiza por cerca de 30 minutos pela manhã cedo e outra vez à noite. Quando iniciando a prática são sugeridos períodos curtos até que as pernas estejam flexíveis e a circulação ajustada.

Se as pernas começam a adormecer, levante-se sobre os joelhos para reativar a circulação. Outra opção é por uma almofada entre a parte inferior das pernas para erguer o quadril acima dos calcanhares. Um pouco de dor é inevitável mas não faça disso um teste de força de vontade para sentar pelo maior tempo possível.

A prática deve ser feita em um local sossegado com iluminação suave e poucos elementos que possam causar distração, visual ou de qualquer natureza. Música é inadequada, já que a ideia é não ser distraído, o que pode acontecer. Eventualmente, a prática poderá ser feita em qualquer lugar onde haja um pouco de atividade em volta. Quando a prática terminar ou as pernas precisarem ser esticadas, curve-se para frente a partir da cintura e ponha a testa no chão mantendo o quadril sobre os calcanhares. Ponha as mãos espalmadas sobre o chão ao lado da cabeça, deslocando-as para diante alguns centímetros. Isto simboliza sua abertura (e aceitação) a tudo que o mundo tenha a lhe oferecer. Respirar nesta posição por um curto tempo antes de sentar novamente permitirá longos períodos de prática.

Existe uma vasta literatura de autoajuda e meditação e há muitos que desejam ensinar métodos secretos de cura da alma cobrando algum preço. Tudo que é realmente necessário é um local para estar só e umas poucas respirações. Se algum suporte é considerado de valia então o Seiza pode ser praticado em grupo, mas isso não é necessário.

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Colaboração:

www.impressione.wordpress.com

www.aikidope.com.br

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O Hara no Hinduísmo

04/08/2009

Na índia, o Hara é conhecido como o Swadhistana (Morada do Prazer), em sânscrito, ou Chakra Sexual (sacro), no Brasil. Na verdade, a função desse chakra ultrapassa em muito a função genital. Ele também controla as vias urinárias e as gônadas (glândulas endócrinas: testículos no homem; ovários na mulher) e é responsável pela vitalização do feto em formação (função essa que divide com o chakra básico). Aliás, a ligação desses dois chakras é estreita demais. Isso se deve ao fato de que parte da energia Kundalini é veiculada do básico para dentro do chakra sacro. É por esse fator que alguns tibetanos consideram esses dois chakras como um único centro.

Devido à sua intensa atuação energética na área genital, o chakra sacro normalmente é suprimido por várias doutrinas espiritualistas ocidentais, muito presas à condicionamentos antigos sobre sexualidade. Muitas delas colocam o chakra esplênico (que fica na altura do baço) em seu lugar. O motivo disso é simplesmente o tabu em relação à questão sexual. Já os orientais não sofreram a repressão sexual imposta aqui no Ocidente pelo Cristianismo, daí não hesitaram em classificar o chakra sexual como um dos principais centros de força do campo energético, enquanto consideram o chakra do baço apenas como um centro de força secundário.

Osho, no livro The Golden Future, fala sobre a prática de reter o Ki ao “fechar o Hara”:

“O Hara é o centro por onde a vida deixa o corpo. É o centro da morte. A palavra Hara é Japonesa; eis porque no Japão, suicídio é chamado de Harakiri. O centro localiza-se a duas polegadas abaixo do umbigo. Isso é muito importante, e quase todo mundo já o sentiu. Porém, só no Japão eles se aprofundaram em suas implicações. 

O Hara está muito próximo do centro sexual. Se você não se elevar em direção aos centros mais altos, em direção ao sétimo centro que está na sua cabeça, se você permanecer por toda sua vida no centro sexual, bem ao lado do centro do sexo está o Hara, e quando sua vida acabar, o Hara será o centro por onde sua energia da vida sairá do corpo.

Energia transbordando no centro do sexo é perigoso, porque ela pode começar a ser liberada pelo Hara. E se ela começar a sair pelo Hara, ficará mais difícil conduzi-la para cima. Então eu tinha lhe dito para manter sua energia dentro e não para ser tão expressivo: Segure-a dentro! Eu só queria que o centro do Hara, que estava se abrindo e que poderia ser muito perigoso, ficasse completamente fechado.

Você seguiu isso, e você se tornou uma pessoa totalmente diferente. Agora quando lhe vejo, não posso acreditar na expressividade que tinha visto antes. Agora você está centrado e sua energia está se movendo na direção correta para os centros mais elevados. Está quase no quarto centro, que é o centro do amor e que é um centro muito equilibrado. Três centros estão abaixo e três centros estão acima dele.

Por causa desses sete centros, a Índia nunca deu importância ao Hara. O Hara não está na linha; está apenas ao lado do centro do sexo. O centro sexual é o centro da vida e o Hara é o centro da morte. Excitação demais, muito descentramento, lançar demasiada energia por todo o lugar é perigoso porque isso leva sua energia em direção ao Hara. E uma vez que a rota é criada, fica mais difícil mover-se para cima. O Hara situa-se paralelo ao centro sexual, assim a energia pode se mover muito facilmente. O Hara deve ser mantido fechado. Eis porque eu lhe disse para ficar mais centrado, para segurar seus sentimentos dentro, e para trazer a energia para seu Hara. Se você puder manter seu Hara controlando conscientemente suas energias, este não as permite sair. Você começa a sentir uma tremenda gravidade, uma estabilidade, um centramento, o que é uma necessidade básica para que a energia se eleve.

Seu centro do Hara tem tanta energia que, se ela for corretamente direcionada, a iluminação não é um lugar distante.

Portanto, essas são minhas duas sugestões: mantenha-se tão centrado quanto possível. Não se perturbe com coisas pequenas: alguém está zangado, alguém lhe insulta e você fica pensando nisso por horas. Toda sua noite fica perturbada porque alguém disse alguma coisa… Se o Hara puder segurar mais energia, assim, naturalmente essa imensa energia começa a subir. Há somente uma certa capacidade no Hara, e toda energia que se move para cima move-se através do Hara; mas o Hara deve estar bem fechado.

Então uma coisa é que o Hara deve permanecer fechado.

A segunda coisa é que você deve trabalhar sempre pelos centros mais elevados. Por exemplo, se você fica zangado com muita freqüência você deve meditar mais sobre a raiva, para que essa raiva desapareça e essa energia se transforme em compaixão. Se você é um homem que a tudo odeia, então você deve se concentrar no ódio; medite sobre o ódio, e essa mesma energia se transforma em amor. Prossiga movendo-se para cima, pense sempre nos degraus mais altos, para que você possa alcançar o ponto mais elevado de seu ser. E não deve haver nenhum vazamento no centro do Hara.

Não deve ser permitido que a energia se mova através do Hara. Uma pessoa cuja energia começa através do Hara, você pode detectar muito facilmente. Por exemplo, existem pessoas com quem você irá se sentir sufocado, com quem você irá sentir como se elas estivessem sugando sua energia. Você descobrirá isso, depois que elas vão embora, você relaxa e fica à vontade, embora essas pessoas não estivessem fazendo nada de errado a você.

Você também encontrará o tipo oposto de pessoas, cujo encontro lhe torna alegre, mais saudável. Se você estiver triste, sua tristeza desaparece; se você estiver zangado, sua raiva desaparece. Essas são as pessoas cujas energias estão se movendo para os centros mais elevados. A energia delas afeta a sua energia. Estamos continuamente afetando uns aos outros. E o homem cônscio, escolhe amigos e companhias que elevam sua energia.

Um ponto está bem claro. Existem pessoas que lhe sugam, evite-as! É melhor ser claro quanto a isso, diga adeus a elas. Não há necessidade de sofrer, porque são perigosas; elas também podem abrir o seu Hara. O Hara delas está aberto, eis a razão de criarem tal sentimento de sugação em você.

A psicologia ainda não percebeu isso, mas é muito importante que pessoas psicologicamente doentes não deviam ficar juntas. E isso é o que está ocorrendo por todo o mundo. Pessoas psicologicamente doentes são colocadas juntas em instituições psiquiátricas. Elas já são psicologicamente doentes e vocês as estão colocando numa companhia que irá arrastar a energia delas mais para baixo ainda.

Mesmo os médicos que trabalham com doentes mentais já deram indicações suficientes disso. Mais psicanalistas cometem suicídio do que qualquer outra profissão, mais psicanalistas enlouquecem do que qualquer outra profissão. E todo psicanalista de vez em quando precisa ser tratado por algum outro psicanalista. O que acontece com esses coitados? Cercado de pessoas psicologicamente doentes, eles são continuamente sugados, e eles não têm a menor idéia de como fechar o Hara delas.

Existem métodos, técnicas para fechar o Hara, assim como há métodos para a meditação, para mover a energia para cima. O melhor e mais simples método é: tente permanecer tão centrado em sua vida quanto possível. As pessoas não podem sequer sentar em silêncio, elas ficam mudando de posição. Elas não podem deitar silenciosamente, por toda à noite elas ficam agitadas e revirando-se.

Você fez bem. Basta continuar o que você está fazendo, acumulando sua energia dentro de você mesmo. A acumulação de energia automaticamente a faz subir. E quando ela ficar mais elevada você irá se sentir em paz, mais amoroso, mais alegre, compartilhando, mais compassivo, mais criativo. Não está muito longe o dia quando você irá se sentir repleto de luz, e com o sentimento de ter chegado de volta em casa.”

Referências nos links abaixo:

O conceito de Chi;

Qi e Energia: Tradução, Tradição, Traição;

Confusão do chakra esplênico com o sacro;

A Importância do Musubi

Colaboração: www.saindodamatrix.com.br


O Hara na Medicina Chinesa

31/07/2009

O Tan t’ien está no centro do corpo. Os taoístas acreditavam que no útero o feto humano recebe um tipo especial de Ki pelo cordão umbilical. Era o chamado “Ki pré-natal“, que circulava livremente em sua órbita bem como em todos os 32 meridianos de energia. Depois do nascimento e com o passar do tempo este Ki perde seu controle sobre o corpo, não circula mais livremente, os meridianos ficam bloqueados e resultam em desequilíbrios emocionais, doenças físicas e fragilidade, na velhice.

Por outro lado, Tan t’ien é o nome dado aos três principais centros de energia localizados no eixo interno de nosso corpo:

1º) Tan t’ien Superior – Localizado atrás do ponto médio entre as sobrancelhas – Hipófise.

2º) Tan t’ien Médio – Localizado na região do Plexo – Coração.

3º) Tan t’ien Inferior – Localizado três dedos abaixo do umbigo. 

É esse último ao qual nos referimos aqui, também chamado “Mar de Energia“. Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, estando cheio o reservatório, ele transborda para os oito vasos energéticos (“vasos maravilhosos“) e posteriormente flui para os doze canais (meridianos), cada um dos quais associados a órgãos específicos. Dessa forma o Ki circula por todo o corpo ao longo de canais (muitas vezes seguindo um percurso paralelo ao sistema cardiovascular), animando toda a matéria viva de nosso ser.

O Tan t’ien, portanto, é claramente a base de todo o sistema energético. Mas os órgãos de vital importância para o corpo, na medicina chinesa, são os rins (Shen), pois eles que regulam o armazenamento e distribuição de Ki para o corpo.

Sabedor disso (de alguma forma), os sacerdotes das diversas religiões usam uma cinta, faixa ou corda exatamente nesta altura (notem que não é uma questão estética, já que ela fica um pouco acima da cintura). Lutadores de artes marciais também costumam amarrar uma larga faixa bem apertada nesse local, para ativar e evitar dispersão da energia. A importância parece estar no judaísmo, também, pois no velho testamento os Salmos fazem várias referências ao coração e rins.

No ritual de iniciação ao Zoroastrismo o sacerdote pega três cordões, que simbolizam a essência filosófica dessa religião: boas palavras, bons pensamentos e boas ações. O iniciado beija as cordas, que são então levadas à altura da fronte (ou terceiro olho) e é então amarrado na cintura do iniciado, na altura dos rins, simbolizando um comprometimento com essas três bases Zoroástricas de uma forma muito parecida com o judaísmo, que usa um Tefilin no braço e na cabeça para simbolizar que se está intimamente “atado” a Deus.

Referências nos links abaixo:

O conceito de Chi;

Qi e Energia: Tradução, Tradição, Traição;

Confusão do chakra esplênico com o sacro;

A Importância do Musubi

Colaboração: www.saindodamatrix.com.br


O Hara

30/07/2009

Hara (腹) significa literalmente “barriga“. É na região abdominal onde o Ki se acumula, mas o ponto central de onde esta energia flui para todo o corpo é conhecido por Tanden (em japonês) ou Tan t’ien (丹田 em chinês), que significa literalmente “área vermelha“, um ponto 6 cm (três dedos) atrás e abaixo do umbigo. É nesse ponto que os praticantes de Kempô, Karatê ou do Tai Chi Chuan se concentram quando fazem as suas técnicas. É fechando o períneo e contraindo o cóccix que se fecha um circuito de energia (para não deixá-la escapar, nas meditações Taoístas) e assim unir os canais ímpares Jen Mu e Tu Mu, fazendo assim a órbita Microcósmica no interior do corpo. Sendo estes dois canais intensificados (energizados) os demais meridianos são também intensificados (os dois canais ímpares influem nos outros canais pares, na acupuntura).

Com a prática dessa técnica de retenção do Ki, pode-se fazer uma brincadeira que é usada em demonstrações de artes marciais, quando uma pessoa normalmente magra é levantada facilmente por outra mais forte, mas quando essa mesma pessoa se concentra e direciona seu Ki para baixo, “enraíza” no chão e aparentemente dobra de peso, só sendo levantada novamente com grande esforço físico.

Na verdade o que ocorre é o seguinte: quando alguém tenta nos levantar e concentramos no Tanden, nós dirigimos – mentalmente – o nosso Ki para baixo, para os pés e para a terra.

Assim, a força do nosso adversário é direcionada para baixo pela força do nosso fluxo – da nossa energia indo para baixo – então o nosso adversário está nos “empurrando” para baixo e não para cima, como ele pensa que está. Para ele superar este fluxo terá que desprender bem mais energia do que o necessário para nos levantar do solo. É um redirecionamento da força do oponente (a base do Aikidô).

Uma outra técnica que todos podem fazer diariamente para aumentar gradativamente o Ki é o Resshu Gamae, uma técnica de centralização de energia. Você assume essa postura ereta, com os joelhos levemente flexionados, como se estivesse abraçando o tronco de uma grande árvore. As palmas das mãos espalmadas, viradas para dentro, e cujos dedos apontam um para o outro, sem se tocar.

Comece fazendo isso por 5 minutos ao dia, por 15 dias. Depois passe para 10 min. ao dia por mais 15 dias, e depois 20 min. por mais 15 dias. Depois disso você já pode sair por aí soltando Hadouken, Leigan, etc.

No Japão, diz-se que os mestres em caligrafia, espada, cerimônia do chá ou artes marciais “atuam a partir do Hara“, ou seja, não precisam de esforço para fazê-lo (algo próximo ao nosso “saber de cor“). Professores budistas orientam seus estudantes a centrar suas mentes no Tanden, que ajuda a manter sob controle os pensamentos e as emoções. “Atuar a partir do Tanden” no budismo é o equivalente ao estado de Samadhi.

Referências nos links abaixo:

O conceito de Chi;

Qi e Energia: Tradução, Tradição, Traição;

Confusão do chakra esplênico com o sacro;

A Importância do Musubi

Colaboração: www.saindodamatrix.com.br


Elementos do Xintoísmo no Aquecimento Moderno – Chin Kon Ki Shin – Por Dan Penrod

17/11/2008

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“Uma prática que busca auxiliar a união da pessoa com o espírito universal e ajudá-la a compreender a missão divina que é a meta a ser atingida em sua vida.” – Do glossário de Os Princípios do Aikido de Mitsugi Saotome.

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Chinkon é definido como… sossegar e acalmar o espírito e Kishin é definido como … Retornar à divindade ou kami, o que se refere a atingir um profundo estado contemplativo em que se está apoiado no universo divino.  Chinkon e kishin são geralmente praticados juntos, e a primeira parte, chinkon, envolve a revitalização dos sentidos e a concentração do espírito, e a segunda parte, kishin, envolve um estado meditativo alerta.  Já foi dito que chinkon e kishin juntos formam um método de se atingir a unidade com o divino, apesar de cada um ter sua própria função. Alguns dizem que chinkon reúne os espíritos das almas que vagueiam no éter até o tanden (centro abdominal) enquanto kishin ativa estes espíritos.

Chinkon-kishin possui raízes ancestrais que são citadas nos antigos textos Xintoístas como o Kojiki.  A prática xamanística da respiração mística e meditação da união dos espíritos divino e humano era muito usada no passado na preparação do misogi em cachoeiras, uma prática ascética de ficar sob uma cachoeira congelante por longos períodos de tempo, em meditação, com o objetivo de limpar a mente, o corpo e o espírito.  O’Sensei praticava com freqüência esse tipo de misogi (limpeza espiritual), mas para O’Sensei, o aikidô era sua prática diária de misogi.  Por esta razão, o fundador se preparava para o misogi de seu treinamento de aikidô praticando técnicas de chinkon-kishin em seus aquecimentos.

A prática do chinkon-kishin tradicional quase saiu de uso na tradição Xintoísta até que Onisaburo Deguchi reviveu a prática dentro da seita religiosa Omoto Kyo Shinto, no início da década de 1900. Quando O’Sensei conheceu Onisaburo e abraçou a religião Omoto ele também abraçou a prática de chinkon-kishin como era ensinado e praticado por OnisaburoO’Sensei abraçou a riqueza da cultura e da miologia xintoísta desde sua infância. A Omoto Kyo, como uma forma nova de uma religião antiga e a liderança carismática de Onisaburo tiveram um profundo efeito sobre o caminho espiritual de O’Sensei.

De acordo com Yasuaki Deguchi, neto do líder da Omoto Onisaburo Deguchi, Onisaburo recebeu seu conhecimento de chinkon-kishin por uma revelação que teve ao fazer parte de práticas ascéticas no monte Takakuma.  Ele também se referiu a um método de kishin mencionado na seção relativa ao Imperador Chuai no Kojiki (registros sobre assuntos ancestrais) e nos registros da Imperatriz Jinko no Ni-honshoki (Crônicas do Japão). Nos anos posteriores a prática de chinkon-kishin foi abandonada na religião Omoto Kyo devido ao efeito profundo e freqüentemente surpreendente que tinha sobre os praticantes. Mas a prática nunca foi abandonada por O’Sensei e é encontrada misturada aos aquecimentos nos dojô de todos os lugares.

São várias as formas de chinkon-kishin que O’Sensei integrou aos aquecimentos do treinamento do aikidô.  Estes exercícios, mesmo que em geral não sejam claramente compreendidos, mesmo pelos uchideshi de O’Sensei, ainda são praticados em muitos dojô de aikidô em todo o mundo. Eles são praticados mais por seus óbvios benefícios ao físico. Eles também são praticados, em parte, por seu significado histórico. Os alunos do fundador que mantiveram a prática diferem de forma significante sobre os detalhes bem como sobre o nível de importância que colocam nessa prática, e a maioria deles admitem não compreendê-la. Um aluno de O’Sensei disse… “Nós a praticamos porque é muito importante… O’Sensei disse que descobriríamos o significado destas técnicas por nós mesmos”.

Furitama: “sacudindo a alma”, “acomodando o ki”, ou “vibração do espírito”

O Furitama é praticado de pé com as pernas afastadas na distância dos ombros. As mãos são colocadas juntas, com a direita sobre a esquerda. Deixa-se um pequeno espaço entre as mãos. As mãos são colocadas na frente do abdômen e sacudidas com vigor para cima e para baixo. Inale até ao topo da cabeça, que estará naturalmente levantada. Então exale até a sola dos pés, enquanto continua a sacudir as mãos para cima e para baixo. O exercício é finalizado em silêncio e em kishin parado e meditativo.

Este exercício de chinkon tem a intenção de reunir o espírito da divindade ao seu centro… acalmando o espírito… vibrando a alma.  É uma maneira eficiente de acalmar seus pensamentos, centrar sua mente e focalizar sua intenção.

Outra forma de “vibração do espírito” pode ser vista com a seguinte prática: levantam-se as mãos acima da cabeça, sacudindo-as vigorosamente com os dedos estendidos. Depois elas são jogadas para baixo em direção ao chão. O fundador falava de “sacudir a poeira das juntas” ao se referir a este exercício para soltar os pulsos. Para ele era um movimento vitalizante para sacudir as impurezas do corpo…uma forma de misogi para se preparar para a prática do aikidô.

Torifune: “remar o barco” ou “pássaro remando”

Torifune, também conhecido como kogi-fune ou o exercício de remar envolve movimentos de braços e corpo como o movimento de remar um barco. De acordo com o Kami no Michi, um importante texto sobre o Xintoísmo, as mãos se fecham com os polegares para dentro, e o movimento das mãos é bastante linear.  As imagens de O’Sensei o mostram com os punhos fechados na forma tradicional de soco, com os polegares por fora.  Em um antigo vídeo ele pode ser visto praticando torifune tanto com movimentos lineares de socos quanto com movimentos ritmados de remadas. Hoje em dia torifune parece ser mais praticado com as mãos abertas, os dedos apontando para baixo com os punhos sendo jogados para frente e puxados de volta para os quadris.

Primeiro se coloca o pé esquerdo para frente. Enquanto joga as mãos ou punhos para frente, você vocaliza o som “eh”.  Ao puxar as mãos, você vocaliza “ho”.  Esse empurrar/puxar é feito de forma ritmada por 20 vezes, e então você coloca o pé direito à frente. Agora, ao levar as mãos para frente você vocalize “ee”.  Ao puxá-las você vocaliza “sa”. Em algumas escolas é feita uma terceira rodada novamente com o pé esquerdo à frente, com o som de “eh” tanto ao levar as mãos para frente como para trás.

Ibuki Kokyu – Respiração Profunda

Ten-no-kokyu: Respiração do céu

A respiração do céu envolve uma inalação profunda, com as mãos juntas na frente do corpo, as mãos são erguidas na postura de ten-no-kokyu (respiração do céu), juntas e acima da cabeça. Então passamos para a respiração da terra…

Chi-no-kokyu: Respiração da terra

A respiração da terra é feita exalando-se lentamente e levando-se as mãos para baixo na postura de chi-no-kokyu (respiração da terra). As mãos são levadas para baixo ao lado do corpo como se estivessem empurrando para baixo o universo, até que as mãos se juntam na frente do abdômen para completar o círculo.

Geralmente o ciclo de ten-no-kokyu e chi-no-kokyu é repetido 3 vezes sucessivas. Quando praticado por si só, em geral há uma pausa silenciosa de kishin no final do ciclo de respirações. Quando é combinado com outros exercícios a transição muda e o kishin pode ser levado para o final das combinações.

Furitama, torifune, e ibuki são freqüentemente praticados juntos em diversas combinações. As vezes furitama é entremeado com ibuki.  Outras vezes furitama é entremeado com torifune.  Essas práticas variam muito de uma associação de aikidô para outra, e também de dojô para dojô, mesmo dentro das associações.

É interessante se notar que as associações de aikidô que foram muito influenciadas por Koichi Tohei praticam muitos outros exercícios de kihon undo que Tohei adotou e ampliou… considerados capazes de ajudar a manifestar o ki.  Quando seus interesses se afastaram das formas antigas de Xintoísmo e sua atenção se focalizou nos princípios do ki, ele pegou alguns exercícios de chinkon-kishin e os modificou para seu catálogo recentemente codificado de exercícios de ki.

Quando comecei a praticar o aikidô, há quase 20 anos atrás, não me lembro de ter visto Mitsugi Saotome Sensei nos direcionando para qualquer tipo de chinkon-kishin.  Isso pode ter acontecido porque O’Sensei diminuiu a ênfase da prática em seus últimos anos. Ou porque o O’Sensei deixou que seus alunos, especialmente nos seus últimos anos, ignorassem ou pensassem por si próprios sobre as antigas práticas xintoístas, que pareciam cada vez mais anacrônicas em um Japão moderno.  Alguns anos depois percebi que Saotome Sensei apresentou furitama, torifune, e ibuki kokyu a seus alunos, possivelmente ao redescobrir suas próprias raízes do aikidô e em uma demonstração de respeito às tradições mais antigas.

Como as origens e motivações destas técnicas são raramente ensinadas ou discutidas no dojô… os alunos ficam freqüentemente imaginando o que estão fazendo ou como absorver de forma apropriada os movimentos que estão acompanhando. Uma compreensão baseada na fonte e da história destes movimentos misteriosos nos ajuda a criar uma base a partir da qual vamos enriquecer e desenvolver nossa prática pessoal. Que sua prática seja bem fundamentada e proveitosa.

Tradução: Jaqueline Sá Freire (Brazil Aikikai – Hikari Dojo – Rio de Janeiro)

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Colaboração: http://hikari1.multiply.com/

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