Prática Honesta por Jim Zimmerdahl

18/02/2012

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O texto que segue é tradução feita pelo Blog Shoshin Sakuba (Aikidô de Curitiba) de um ensaio de Jim Zimmerdahl, Honest Practice, publicado originalmente em inglês no site AikiWeb.com.

Boa leitura.

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Prática Honesta por Jim Zimmerdahl

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Um ladrão

Estou praticando com outro estudante. Alguém está conduzindo o treino, tentando fornecer as informações e práticas necessárias para, eventualmente, “possuir” a técnica do momento.

À minha esquerda tem uma faixa-branca, um novo aluno faixa-verde tem praticado conosco há alguns meses. O faixa-branca está tendo problemas com a técnica. O faixa-verde começa a ajudar, dizendo a o faixa-branca como corrigir o problema. Soa familiar? Em pouco tempo o faixa-branca passa a ter uma sessão de treinamento particular – muita conversa com pouca ação. O instrutor auto-declarado é um ladrão! O faixa-verde tem a melhor das intenções, mas arrancou o aluno do treino, do professor do aluno, e o tempo da prática. Além disso, faixa-verde raramente ensina. Eles têm muito a aprender e até mesmo com as melhores intenções, pouco a ensinar.

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Um impostor

Estou praticando com outro estudante. Alguém está conduzindo o treino, tentando fornecer as informações e práticas necessárias para, eventualmente, “possuir” a técnica do momento.

O instrutor explica um conceito e um estudante à minha esquerda faz uma pergunta. Ele começa a frase com: “Então você quer dizer que …” com uma reformulação do que o instrutor já disse. Dá para notar que a questão não é uma pergunta honesta porque carrega uma expressão de dúvida. O aluno não quer saber a resposta. O estudante queria o reconhecimento pela compreensão, pela participação. Este estudante está fingindo estar interessado no que o professor tem a dizer, mas realmente quer ser percebido como alguém com conhecimento. O ego está no comando.

Outro aluno faz uma pergunta. O instrutor responde à pergunta, mas dá para ver que o aluno não está satisfeito com a resposta. O estudante reitera o que um instrutor anterior declarou. Este aluno quer que o instrutor (e os outros alunos) saibam que existem outras opiniões sobre como isso deve ser feito. Este estudante está fingindo contribuir com informações adicionais, mas na realidade, ele tem dúvidas sobre o instrutor. O ego está no comando.

Começamos a prática. Foi passada uma série específica de movimentos e todo mundo faz apenas o que foi pedido. Depois de um tempo uma dupla de estudantes começa a mudar o que estão fazendo. Outro par está parando para discutir cada sucesso e fracasso, e todo mundo acha que eles são muito ativos e participativos. Bem, sim, eles são. Mas cada um tem sua própria “agenda”. Eles estão se colocando como estudantes interessados, mas, na verdade, estão interessados em gratificação pessoal e imediata. Eles não estão praticando, pois eles estão se exibindo. O ego está no comando.

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Uma vítima

Estou praticando com outro estudante. Alguém está conduzindo o treino, tentando fornecer as informações e práticas necessárias para, eventualmente, “possuir” a técnica do momento.

Um estudante à minha esquerda queixa-se de um problema com a técnica. O instrutor sugere uma solução e pede aos alunos para tentar novamente. O estudante tenta, exagerando o problema ao mostrar o quanto é difícil. O instrutor sugere outra solução. O aluno quer que a técnica perfeita apareça como um passe de mágica, sem esforço. Uke enfraquece o ataque para dar uma melhor chance ao Nage. Nage é mais capaz agora, e bem sucedido contra um ataque menos eficaz. Nage se sente melhor, enquanto a técnica sofre. Nage e Uke trocam suas posições. O praticamente que havia sido Nage ataca de modo que a técnica aplicada exige uma queda truncada. Quando o aluno reclama do excesso de força, Nage reduz o foco do ataque para poupar Uke. Uke finge a queda. A técnica sofre, o risco é removido, e a realidade desapareceu. O aluno pode ficar bem na fita (para alguns) sem se sentir ameaçado e sem incomodar ninguém. O aluno é uma vítima – uma vítima do desejo de obter algo sem dar nada em troca.

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Um charlatão

Estou praticando com outro estudante. Alguém está conduzindo o treino, tentando fornecer as informações e práticas necessárias para, eventualmente, “possuir” a técnica do momento.

Quando a prática se torna mais difícil, fica trabalhosa demais para um estudante à minha direita. O aluno precisa de um copo de água. O parceiro desse aluno tem que esperar até a sua volta, e eles começam a praticar novamente. O aluno assume o papel de Nage. O parceiro é um bom Uke, atacando de forma sincera, mas o Nage não se voluntariar para ser Uke. O professor seleciona outra técnica e uma mudança de parceiros. O aluno assume novamente o papel de Nage. Depois de um tempo o professor grita: “Troquem as duplas” e o tal aluno precisa de outro copo de água. Lembro-me deste ser o aluno que sempre chega logo após o fim da faxina do dojô, na manhã de sábado. Este é também o estudante que teve que sair um pouco antes do projeto que estava planejado desde a semana passada. Mas esse aluno é um político de alto nível – um estudante maravilhoso de ter por perto, a menos que você exija alguém que esteja disposto a “andar o caminho (walk the walk)”.

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Então, quem é esse aluno?

Provavelmente todos nós. O ladrão, o impostor, a vítima e o charlatão são a besta interior, o ego. Aquele pedaço de nós que está sempre em busca de gratificação, afago, moleza e reconhecimento.

Nós somos todos ladrões. Todos nós queremos o reconhecimento, por isso roubamos um pouco do tempo de todos para obtê-lo, mesmo que seja de alguém que ainda não sabe o que está acontecendo. E todos nós temos nossos joguinhos mentais quando somos o impostor.

Nossa mente é uma coisa maravilhosamente inteligente e enganadora. Ela chega a nos fazer pensar que estamos sendo honestos. Mas raramente é uma mente aberta. Nosso copo raramente está vazio. Nossos egos nos impedem de nos submetermos à vontade dos outros. Isso ajudou a sobrevivência da espécie, mas é um desastre no processo de aprendizagem.

Muitas vezes encarnamos o papel de vítima. A mente está sempre procurando o caminho mais fácil. Se acreditarmos no que sentimos, a mente vai nos fazer sentir que o caminho de menor desconforto e maior gratificação é a única opção. Mentimos para nós mesmos para justificar a mentira que compartilhamos com os outros. O charlatão é um ladrão muito hábil, que também é um impostor e se justifica pondo a culpa no mundo ou nos outros.

É terminal? Não mais do que a vida. Mas devemos estar preparados, porque todos nós somos alunos. Nenhum de nós está imune a nossa própria mente. Devemos sempre verificar os nossos motivos – verificar nossa verdadeira motivação quando agimos (ou reagimos), porque estas são apenas algumas das formas que a besta interior da “justificativa” vai assumir. Na verdade, enquanto você lê isto, você vai se lembrar de ter visto alguns desses alunos sobre o tatame. Mas você se lembra de vê-los no espelho? Não se sua besta interior está no comando.

Mas o Aikidô não é justamente a respeito disso? Nossa prática nos dá uma oportunidade de expor a fera, onde podemos identificá-la, desnudá-la, e esmagá-la até a morte. Então podemos calar a boca e praticar. Claro que ela vai estar de volta em outra forma, mas e daí? Esta é uma busca ao longo da vida inteira.

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Colaboração:

www.impressione.wordpress.com

www.shoshinsakuba.wordpress.com

www.aikiweb.com

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Capacidade de Explorar o Mundo Interior – Por Roberto Shinyashiki

04/06/2009

Ficar em silêncio ajuda muito a escutar a voz da sua alma.

Você já ouviu a opinião de muitos autores a respeito da importância de seguir o seu coração. Eles têm razão: um caminho que não fale ao seu coração não alimentará a sua alma; e uma pessoa sem alma é um ser perdido no oceano da vida.

A exploração do nosso mundo interior ajuda a nos conhecer melhor e, portanto, a construir uma vida que tenha sentido. Fico muito triste quando converso com pessoas ricas e importantes que me confessam, quase chorando: é horrível ver que batalhei e consegui tantas coisas que queria, mas não sou feliz. O meu sacrifício não me deu felicidade.

É importante escutar a nós mesmos o tempo todo, para saber se estamos realizando objetivos que nascem do nosso coração. Só assim teremos certeza de que, no final da vida, não iremos nos martirizar com o arrependimento.

– Mas, Roberto, como conhecer a minha alma? Como escutar o meu coração?

Bem, a primeira dica é: faça a pergunta certa. Quando você faz a pergunta errada, o seu coração vai para muito longe. Quer um exemplo de pergunta errada? Suponha que o seu chefe foi duro com você e apontou vários problemas de desempenho no seu trabalho. Se você perguntar a si mesmo: “Por que meu chefe está me sacaneando?”, não vai encontrar uma resposta que lhe ajude a crescer.

Sentir-se vítima do seu chefe, em vez de analisar o próprio trabalho, vai deixar você distante da resposta que lhe interessa. Nesse momento o melhor é olhar para dentro de si, verificar em quais pontos o seu chefe tem razão, analisar suas atitudes e tentar melhorar o seu desempenho. Seu namorado terminou o relacionamento com você. Em vez de perguntar por que ele a sacaneou, seria mais interessante entrar em sintonia com os próprios sentimentos. Se a tristeza aparecer, o melhor é chorar em paz, e só depois analisar seu comportamento.

Talvez você se dê conta de que estava sendo muito crítica com seu namorado e, a partir daí, aprenda a admirar mais a pessoa que você ama, percebendo com isso o que pode melhorar em sua maneira de demonstrar amor. Se você fizer as perguntas certas, conseguirá aprender muito sobre si mesmo. Faça suas perguntas, mesmo que elas fiquem muito tempo sem resposta:

• O que é essencial para você?

• Qual é a sua meta profissional?

• Como gostaria de estar daqui a dez anos?

• O que você precisa fazer para realizar seus projetos?

• A sua vida está do melhor jeito que poderia estar neste momento?

A capacidade de explorar nosso mundo interior nos ajuda a tomar melhores decisões e a evitar problemas decorrentes da nossa maneira de ser. Quando tinha aproximadamente 20 anos eu era o rei das decisões impulsivas. Decidia comprar alguma coisa sem pensar e alguns dias depois tomava consciência de que tinha feito besteira.

Depois de algum tempo decidindo errado, prometi a mim mesmo que sempre me daria um prazo de uma semana para pensar antes de comprar qualquer coisa mais cara. Isso evitou que eu fizesse muitas bobagens. Conhecer-se melhor pode ajudá-lo a tomar decisões que lhe façam realmente crescer.

Certa vez um deputado que gostava muito do meu trabalho telefonou-me e convidou-me a assumir um cargo de diretor de um importante hospital público. Consegui pedir a ele um prazo de um dia antes de lhe dar a resposta, o que foi um grande sacrifício, pois a minha vontade era dizer sim na hora. Fiquei pensando sobre o assunto e me dei conta de que aceitar o convite para cuidar de um hospital não tinha o menor sentido, considerando a minha vocação de psiquiatra. O que eu gostava mesmo era de escutar as pessoas e ajudá-las a se realizar. Foi um alívio quando, no dia seguinte, liguei para dizer “não, obrigado!”. Minha alma celebrou a minha decisão.

Algumas vezes, sua rota precisa ser reajustada e você só descobrirá isso se souber conversar consigo mesmo. Ficar em silêncio ajuda muito a escutar a voz da sua alma.

Sabe quando rastreamos todos os arquivos e pastas do computador em busca de alguns vírus que possam ter invadido o sistema? Sabe quando navegamos pela internet e mantemos o antivírus acionado para impedir a entrada de elementos suspeitos? Na vida real, o autoconhecimento é nosso melhor antivírus. Para que você não perca todos os seus documentos nem tenha de configurar novamente sua máquina, pergunte-se sempre o que realmente importa em cada momento de sua vida.

* Roberto Shinyashiki é psiquiatra, palestrante e autor de 13 títulos.

Colaboração: http://shinyashiki.uol.com.br


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