Para ser um Bom Instrutor – Por Yoshimitsu Yamada – 8° Dan de Aikidô

01/07/2013

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Sobre este tema, eu gostaria de discutir no que se requer para ser um bom instrutor, assim como a mentalidade necessária para ser efetivo como professor. Não é necessário dizer, que meu ponto de vista está puramente baseado na minha experiência como instrutor de Aikidô. Tenho visto também alguns dos meus próprios alunos chegarem a professores e é através deles, e de meus próprios anos como Sensei,que realizo algumas observações.

Um dos fatos principais é que tem aspectos mais importantes que simplesmente habilidade técnica para chegar a ter sucesso na arte de ensinar. Tenho me dado conta que não necessariamente é sempre o mais talentoso Aikidoca que pode compartilhar o que ele ou ela conhece sobre a arte. Por exemplo, um excelente jogador de baseball não é necessariamente um coach efetivo. Esta ideia nos demonstra que geralmente se requer algo mais que habilidade física.

Um professor necessita ser respeitado e querido por seus alunos. Falando de respeito, frequentemente escuto professores queixando-se de que seus alunos não lhes oferecem o devido respeito. Na minha opinião o respeito não é algo que pertence, não se pode forçar a nada tê-lo. Deve ser ganho, na maioria das vezes através da experiência, confiança em si mesmo e respeito pelos demais.

Para ser um bom instrutor, seus alunos devem sentir seus anos de experiência comprometida e sua confiança no que estás fazendo. Infelizmente, no meu caso, sempre lamentei ter me transformado em professor de Aikidô sendo tão jovem, imaturo e relativamente inexperiente nos caminhos do mundo. Os chefes do Aikidô não tiveram outra opção, já que o Aikidô era uma nova arte e não tinham tantos praticantes dedicados a difundir o Aikidô nesse momento. Eu era sincero, mas sem as habilidades necessárias para ser tão eficaz como podia ter sido. Enquanto se é jovem, suas técnicas podem ser fortes em razão de suas proezas físicas. No entanto, um poderia precisar de outros fatores, que o ajudam a transforma-se em um líder. Por exemplo, a experiência social, como tratar as pessoas ou como atuar como um ser humano com qualidades que alguém aprende através do tempo.

Uma coisa que sempre tenho em minha mente quando ensino é que, entre os corpos dos alunos, há diferentes tipos de gente de diferentes campos, e que já estão estabelecidos e maduros em suas próprias profissões. Eles não são diferentes de mim. É bastante interessante, mas que eu realmente comecei a me sentir satisfeito como professor quando me aproximei dos meus cinquenta anos. Como disse anteriormente além do tempo e da experiência, é também crucial ter confiança, para chegar a ser um bom instrutor.

Frequentemente, tenho conhecido instrutores que não permitem a seus alunos nenhuma liberdade e os proíbem de ir a outros seminários dados por outros instrutores. Eles não poderiam chegar tão longe ao ponto de dizer que ficar com eles é suficiente, e que os alunos não necessitam se expor a outras influências. Para mim, isso demonstra falta de confiança por parte do instrutor. Deixar seus alunos ver outros mundos, os mantém livres para utilizar seu próprio juízo. Essa classe de segurança em si mesmo é uma maneira importante de chegar a ser um líder.

Lembro claramente uma vez, quando em um grande seminário de diferentes Shihans de Aikidô, havia um grupo de um dojô em particular, que ao invés de treinar com o resto dos participantes, que é a essência da “experiência do seminário”, somente treinavam entre eles mesmos. Seu professor, que não era um dos Shihan, que também assistiu ao seminário, os proibiu de interagir, para não comprometer seu Aikidô.

Adicionalmente, em lugar de tratar de fazer o que estava sendo demonstrado, continuaram treinando como sempre faziam. Que triste é isso, tanto para os alunos, que poderia se beneficiar sentindo diferentes estilos, como para o professor que não tinha confiança suficiente em que seus alunos poderiam desenvolver seu próprio estilo através de outras influências e, todavia, ser dedicado a ele. Finalmente, eles não adquiriram a vantagem completa das possibilidades de crescimento.

É necessário dizer, que os bons instrutores não necessitam se sentir com se precisassem provar de si mesmo para seus alunos. Nem ter que demonstrar quão fortes são. Presumivelmente, os alunos já sabem. Não é bom para os professores ver que as habilidades físicas de seus alunos são do mesmo nível que as suas. Em outras palavras, para evitar a comparação de si mesmos com seus alunos, os professores precisam se dar conta de que dez pessoas diferentes têm dez aptidões e condicionamentos físicos diferentes. Um Sensei valioso demonstra carinho, generosidade e paciência enquanto trata com cada aluno apropriado e individualmente.

Um último conselho é não fazer seus alunos o verem como um ser superior. Se te rodeias de gente que vão lhe colocar em um pedestal, estás se programando para a ilusão de que és superior às outras pessoas. A pessoa deve entender que fora do tatami és o mesmo ser humano que eles são. Não obstante, uma vez que estás no tatami, podes demonstrar-lhes “quem é o chefe”.

Quando lidero uma aula, sinto que sou o diretor de uma orquestra, cada um dos meus alunos está tocando um instrumento diferente, onde minha responsabilidade é criar uma boa harmonia entre eles. Algumas vezes, sinto que sou um chef de um grande restaurante que através de minhas receitas levo variedade e sabor aos meus alunos, e assim eles não se sentem cansados ou aborrecidos, sempre buscando dar-lhes inspiração.

Como Sensei de Aikidô, sempre estou buscando a maneira de ser um melhor professor. É um processo de evolução que me ajuda a expressar minha humanidade e a aprender a ser um melhor ser humano. Depois de tudo, é o êxito de seus alunos que lhe faz um bom professor, no tanto que um bom professor cria fortes futuros praticantes. Ensinar é uma relação de respeito mútuo e entendimento. Dessa forma, seus alunos sempre terão alguém para admirar e vice versa. Para mim, isso é respeito ganho.

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*Yoshimitsu Yamada – Instrutor Chefe do New York Aikikai – Chairman of the Board of the United States Aikidô Federation (USAF).

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Colaboração:

www.impressione.wordpress.com

www.aikikai.org.br

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Alguns Pontos Sobre Promoções e Exames – Yoshimitsu Yamada Sensei *

02/10/2012

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A atividade do Aikidô nesta parte do mundo (EUA)recentemente tornou-se muito excitante devido à presença de Osawa Sensei, que ministrou aulas no seminário anual de faixas pretas em Nova York.

Para os estudantes, o ponto alto deste tipo de seminário ou summer camp é o exame de faixa preta. Para ser honesto com vocês, este nem sempre é o ponto de destaque para mim. Às vezes – devido à performance dele ou dela – eu tenho que reprovar algum estudante, e, nenhum instrutor gosta de fazer isso.

Eu gostaria de discutir algumas coisas que percebi durante alguns exames recentes. Estou mencionando estes pontos porque acho que serão úteis a vocês em sua prática diária.

O que mais me surpreendeu foi que algumas pessoas que estavam fazendo os exames não eram capazes de executar de forma clara nem mesmo técnicas básicas, tais como shomenuchi ikkyo, yonkyo e shihonague. Alguns nem ao menos sabiam os nomes destas técnicas comuns. Eu entendo que devido à variedade natural do Aikidô – sua flexibilidade e criatividade – pode haver alguma dificuldade em nomear todas as técnicas. Porém, há nomes comuns específicos para as técnicas básicas. E eu acho que a familiaridade ou sua falta com estes nomes comuns depende da atitude na prática diária.

Outra coisa que notei foi que muitas pessoas estavam interessadas em executar movimentos ou técnicas exagerados, extravagantes, que haviam copiado de estudantes mais avançados. Por favor, se lembrem de que um estudante adiantado executando movimentos mais complexos ou extravagantes é totalmente diferente de um principiante executando estes mesmos movimentos. E esta diferença é óbvia para um Aikidoísta experiente. A técnica de um estudante avançado revela uma base rigorosa nos fundamentos e princípios do Aikidô – sua técnica tem uma estrutura bem definida; uma técnica mais complexa de um iniciante carece de base – é só uma técnica superficial, sem nada de interior.

É surpreendente para mim que existam alguns instrutores que ensinem somente movimentos complicados aos principiantes, se esquecendo de ensinar os elementos básicos das técnicas. Eu gostaria que estes instrutores percebessem como é importante para um estudante receber os elementos básicos para só então mais tarde, se ele ou ela assim o desejar passarem a executar os movimentos mais sofisticados. Para dar um exemplo desta falha no exercício do básico, eu notei, nos exames, que várias pessoas não conseguiam executar suwari wasa corretamente! Vamos todos certificar-nos de que praticamos o básico em nossas aulas diárias.

Obviamente as pessoas que fazem o exame para faixa preta são ou do primeiro (Faixa Marrom) ou do segundo kyu (Faixa Azul). A habilidade de um aluno do primeiro kyu deveria estar em nível quase igual à de um shodan. Eu penso que um exame para shodan é uma mera formalidade, no qual se demonstra o quanto as habilidades do primeiro kyu foram aprimoradas. Eu gostaria então de pedir aos instrutores que aplicam exames de kyu que sejam um pouco mais rigorosos nos exames de primeiro kyu, para que seus estudantes não venham a embaraçar a si e aos seus instrutores quando forem prestar exame para shodan. Isto fará com que os exames se tornem o ponto alto dos seminários para mim também.

Falando sobre outro aspecto do exame, às vezes eu ouço pessoas comparando os mérito de um exame ou outro, ou tagarelando sobre as promoções de outras pessoas. Eu escuto coisas como: “Como ele conseguiu passar?” ou “Eu jamais o teria aprovado!”, etc. Antes de entrar em mais detalhes sobre os fatores determinantes que nós usamos para promover as pessoas, quero dizer o seguinte: a atitude expressa neste tipo de observação é absolutamente errada, não importando em que circunstâncias aconteçam. Nós, como Aikidoístas, devemos ter muito sentimento, e congratular cada um por suas realizações.

Desnecessário dizer que para ser aprovado no exame um estudante deve estar apto a mostrar certo nível no teste. Mas, o julgamento de um examinador também deve se basear em um ou mais dos seguintes fatores:

1) tempo de dedicação ao Aikidô;

2) atitude na prática;

3) limitação física;

4) esforço – todos nós temos diferentes habilidades físicas, mas é realmente o esforço o que conta mais.

Então, por favor, tenham sempre em mente que há muitas coisas a considerar na decisão sobre promoções.

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* Instrutor Chefe do New York Aikikai – Chairman of the Board of the United States Aikidô Federation (USAF).

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Colaboração:

www.impressione.wordpress.com

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